Saturday, May 31, 2008

GLOBO REPÓRTER – 30/05/2008
Exma. Mídia:
Assistindo a reportagem das proezas de pessoas que com sorte, saíram do nada para uma vida abastada e sabendo que são poucos no universo de pessoas existentes, me veio à mente a facilidade com que a mídia encontrou para mostrar um lado bem sucedido de uma minoria brasileira.Sabemos todos nós que a maioria vivem umas realidades diferentes, que mesmo lutando com todas as forças não conseguiram chegar lá impedidos na maior parte por injustiças e decepções sofridas. Até hoje com 47 anos de vida, nunca vi nenhum desses milhões... Receber destaque em algum canal de TV com tamanho valor ser mostrado ou reportado com tanta ênfase em um programa tradicional e famoso como o Globo Repórter, e, escrevo porque pertenço à classe desses milhões detentores de uma história diferente da mostrada com destaque em Rede Nacional em 30/05/2008. Sendo assim fica uma pergunta ainda sem resposta, porquê? Será meu mundo outro? Creio que não, pois sei que minha história, que é igual a muitas que existem e representa muito para mim, não seja de interesse das grandes reportagens ou até mesmo de opiniões defendidas por “valores” detentoras e patenteadas por grandes conglomerados de comunicação que com reportagens como a divulgada sexta-feira à noite na mídia, se abastece e ao mesmo tempo se sustenta na publicidade de incentivo do consumismo desenfreado seja o produto qual for, alimentando a ilusão e fantasia das pessoas, sendo assim catastrófico para a sociedade no despertamento da busca e cobiça... Sem precedentes daquilo que muitas vezes não se pode alcançar. Escrevo não como um desabafo, mas uma opinião de um cidadão brasileiro que como tantos outros tem uma opinião a ser defendida, mesmo assistindo, outras opiniões formadas e defendidas com unhas e dentes.

Obrigado.

Wednesday, May 28, 2008

Crise bilateral em discussão

Os vice-chanceleres da Colômbia e do Equador, Camilo Reyes e José Valencia, se reuniram ontem no Panamá para encontrar uma solução definitiva à crise bilateral. A tensão começou em 1º de março, quando tropas colombianas invadiram o território equatoriano, para atacar um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), e mataram o guerrilheiro Raúl Reyes. Na semana passada, os chefes militares de ambos os países também se encontraram no Panamá, para decidir sobre o reestabelecimento da “cartilha se segurança” na fronteira.

Camilo Reyes e José Valencia já tinham conversado em 29 de abril (no Panamá) e em 13 de maio (em Lima), mas a crise persiste. Segundo o governo equatoriano, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, continua a acusar os vizinhos de serem cúmplices das Farc. As conversas iniciadas ontem também terão a participação de Víctor Rico, representante pessoal do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza.


Folha de São Paulo McCain quer acordo nuclear com Rússia
McCain quer acordo nuclear com Rússia
DANIEL BERGAMASCO - DE NOVA YORK

O senador John McCain, virtual candidato republicano à Presidência dos EUA, se distanciou da política internacional unilateralista do presidente George W. Bush ao defender ontem em discurso que os Estados Unidos busquem "parcerias" globais para redução do arsenal de armas nucleares.

No pronunciamento em Denver, Colorado, McCain defendeu especialmente a negociação com a Rússia para redução de armas nucleares e também citou a abertura de diálogo com a China sobre o tema.

"A Rússia e os Estados Unidos não são mais inimigos mortais. Como nossos dois países possuem a esmagadora maioria de armas nucleares do mundo, nós temos uma responsabilidade especial de reduzir esse número", declarou, em uma clara ruptura com pronunciamentos anteriores em que foi muito mais duro com o antigo rival dos anos de Guerra Fria.

Em outro momento, o senador afirmou que os EUA devem ser "um modelo para os outros". "Isso significa não apenas perseguir nossos próprios interesses, mas reconhecer que compartilhamos interesses com povos ao redor do planeta", disse McCain, para quem a abertura diplomática se baseia no "grande e permanente poder da América de liderar".

Diferente de Bush
O pronunciamento de ontem foi o segundo no qual o senador do Arizona enfatizou sua visão sobre diálogo multilateral distinta da de Bush -que apóia sua candidatura e participou à noite de evento para levantar fundos para a campanha.

Na primeira vez em que pontuou diferenças, há algumas semanas, o candidato declarou que, como presidente, estaria disposto a fazer concessões para combater o aquecimento global. Bush, por sua vez, é pouco flexível sobre o tema, tendo retirado o país do Protocolo de Kyoto, destinado a reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa.

Já na política internacional sobre armas, Bush rompeu em 2002 o Tratado Antimísseis Balísticos (TAB), criado em 1972, no qual países concordavam em não construir sistemas de defesa antimísseis.

"O que McCain disse no discurso sobre armas nucleares soa muito mais próximo da política do [ex-presidente Richard] Nixon e de George Bush pai, que defendiam que os EUA deveriam ser um modelo e, assim, liderar o mundo. É um retorno à maneira de liderar do Partido Republicano", disse à Folha Matthew Bunn, especialista em política internacional e proliferação nuclear da Universidade Harvard.

"Já Bush filho não se importa em dar exemplo a ninguém e adotou uma política que o distancia do resto do mundo, como você pode ver por Guantánamo", afirmou, citando a prisão em base militar que os EUA mantêm em Cuba para suspeitos de terrorismo e onde prisioneiros denunciaram a prática de tortura.

Protesto
No salão da Universidade de Denver onde McCain fez o discurso, o candidato foi interrompido algumas vezes por manifestantes contra a Guerra do Iraque, cuja continuidade é apoiada pelo candidato. Em resposta, McCain repetiu: "Eu nunca me renderei no Iraque".

McCain ainda citou a Coréia do Norte e o Irã, com os quais "é preciso ser mais rígido" na verificação de armas nucleares, e voltou a refutar a proposta do rival democrata Barack Obama de dialogar com países "hostis".



Folha de São Paulo Documento bilateral teve três revisões
DA REDAÇÃO

No seu discurso de ontem, McCain afirmou que apóia um novo acordo de redução de armas com a Rússia para substituir o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start, na sigla em inglês), que expira em 2009. O governo Bush tem se recusado a aceitar novos limites obrigatórios de redução dessas armas.

O Start, de 1991, visou a a redução do arsenal atômico das duas potências. Firmado meses antes do fim da União Soviética, foi visto como um pacto para encerrar a Guerra Fria.

O texto obrigava os dois lados a reduzirem em 35% seu estoque de armas nucleares de longo alcance, avaliado em 10 mil ogivas cada, em sete anos -a meta foi alcançada. O Start-2, que entrou em vigor em 1996, e o Start-3, de 1997, pretendem reduzir o estoque de ogivas para 2.000 de cada lado até 2012.

Segundo especialistas, os EUA dispõem hoje de pelo menos 5.300 ogivas operacionais e 5.000 em reserva. A Rússia teria 4.700 armas nucleares operacionais.


O Globo FAB muda 15% das rotas de helicópteros no Rio
Tiros contra aeronaves e aumento do tráfego aéreo são as causas; Aeronática estuda ainda outras alterações
Antônio Werneck, Fábio Vasconcellos e Taís Mendes

No ano passado, a Aeronáutica implantou no Rio novos corredores de circulação de helicópteros e alterou o desenho de algumas rotas, levando em conta a insegurança de pilotos e passageiros e também o aumento do volume de tráfico aéreo na Região Metropolitana. A informação foi revelada em nota pelo comando da Força Aérea Brasileira (FAB), admitindo que as alterações atingiram cerca de 15% do traçado, com o estabelecimento de novas altitudes, rumos e até novas rotas.

Ainda segundo a FAB, novas mudanças podem acontecer no espaço aéreo do Rio este ano. O assunto será discutido na reunião que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) realizará nos próximos meses, em data a ser definida. Na pauta de discussões, os "problemas relacionados com o movimento de aeronaves na região do Rio de Janeiro, a exemplo do que já aconteceu em São Paulo, em fevereiro deste ano", diz a nota. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou ontem a existência de registros na Gerência Regional (Ger 3) - como noticiou ontem O GLOBO - de helicópteros atingidos por balas quando sobrevoavam morros do subúrbio do Rio, em 2007.

Helicóptero foi atingido por bala na sexta-feira passada
Apesar das mudanças, um novo caso aconteceu na última sexta-feira: um helicóptero modelo esquilo AS 350 B, fabricado em 1986, foi atingido por uma bala de fuzil no tanque de combustível quando seguia, com seis pessoas, do Rio para Ibitipoca, em Minas Gerais. O incidente aconteceu por volta das 9h30m, na Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, na Penha, a cerca de 500 pés de altitude (cerca de 160 metros a partir do ponto mais alto). A bala perfurou a fuselagem, atingiu o tanque de combustível e se alojou no banco a cerca de três centímetros de um dos passageiros.

Logo que percebeu que o aparelho havia sido atingido, o piloto entrou em contato com a torre de controle do Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, e foi autorizado a fazer um pouso de emergência. No helicóptero, além do piloto, não identificado, estavam o empresário Arthur Bahia; a mulher, a artista plástica Mucki Skowronski; o casal de empresários mineiros Renato e Cristina Machado; e a arquiteta Márcia Müller. Ninguém ficou ferido. A Polícia Civil abriu ontem à tarde inquérito para investigar o caso.

Governador recebeu e-mail da artista plástica
O governador Sérgio Cabral assegurou que vai continuar a enfrentar os criminosos, lembrando que os moradores do Complexo do Alemão também sofrem com a violência.

- Até conheço pessoalmente as pessoas que estavam no helicóptero e fiquei muito sentido. Imagino o pavor. Nosso objetivo é dar tranqüilidade à população, seja para quem anda de helicóptero, para quem anda a pé ou para quem mora nessas comunidades, os que mais sofrem. Recebi um e-mail da Mucki (referindo-se a artista plástica Mucki Skowronski, uma das passageiras) e ontem mesmo respondi. São meus amigos. Disse que sentia muito e que imaginava o terror que sentiram - afirmou o governador Sérgio Cabral.

Sunday, May 25, 2008

Lula tem encontro 'tenso' com Correa, Evo e Chávez
Antes da assinatura do tratado da Unasul, presidente equatoriano ainda fazia restrições a formato do acordo
O primeiro compromisso da agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem foi um café da manhã com os presidentes do Equador, Rafael Correa, da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Hugo Chávez, para garantir uma assinatura sem surpresas do trato constitutivo da União Sul-Americana de Nações (Unasul). Foi, na descrição de assessores presentes, um encontro “tenso”. Nos últimos momentos, às vésperas da assinatura definitiva, Correa ainda apresentou restrições ao formato do tratado.
Na estrutura final da Unasul, a secretaria-geral - que ficará no Equador - terá menos poder que o conselho de delegados e delegadas, sendo apenas a quarta instância de decisão. O presidente equatoriano acredita que os seus delegados não refletem fielmente as posições de seu governo. No entanto, o Equador não havia questionado seriamente a formatação final, porque o principal candidato a secretário-executivo da Unasul era o equatoriano Rodrigo Borja, que renunciou na última quinta-feira, mudando o quadro.
Corrêa foi convencido a abandonar os seus pleitos em nome da harmonia na Unasul e para não criar mais problemas em um acerto já complicado. O governo brasileiro já esperava um revés em relação ao anúncio da criação de um conselho de defesa na Unasul, rejeitado pela Colômbia e visto com reservas por outros países da região, o que dava mostras de um relacionamento ainda muito complicado.
CONSTRANGIMENTO
Em 2005, durante outro encontro em Brasília, Lula teve de passar pelo constrangimento de ver o presidente venezuelano negar-se em público a assinar a declaração final dos presidentes que previa criação da Comunidade Sul-Americana de Nações - o primeiro nome da Unasul -, depois de um dia inteiro de negociações.
Naquela ocasião, Chávez exigia que o debate continuasse até que todos chegassem a um consenso sobre o tratado constitutivo. Diante da imprensa, o venezuelano passou um pito no chanceler brasileiro, Celso Amorim, que tentou convencê-lo a assinar a declaração.
Coube ao presidente Lula a tarefa de apaziguar Chávez e convencê-lo sobre a importância de assinar o documento
O Estado de São Paulo

Adesão de vizinhos deve demorar 5 anos
Entidade pretende se expandir para América Central e para o Caribe
A União Sul-Americana de Nações (Unasul) terá um período de carência de cinco anos até começar a agregar vizinhos da América Central e do Caribe que venham a se interessar pelo processo de integração. Otimistas, os negociadores do documento previram que os pedidos de adesão vão aparecer.
O texto prevê que só os países que tenham passado quatro anos na condição de Estados Associados poderão se candidatar. A adesão será decidida por consenso pelos presidentes. O documento firmado ontem pelos 12 países não impõe a vigência da democracia plena como condição para a permanência no grupo.
A estrutura de decisão da Unasul repetiu, com alguma flexibilidade, a do Mercosul. No tratado, curiosamente, todas as autoridades são mencionadas nos gêneros feminino e masculino. O comando estará nas mãos do conselho de “chefes e chefas” de Estado. Abaixo, estará o conselho de “ministros e ministras” de Relações Exteriores. Na negociação para valer, estará o conselho de “delegados e delegadas” e, por fim, a secretaria-geral - o órgão executivo com poder minguado, como no Mercosul, que terá sua sede em Quito (Equador). A cada ano, um país presidirá a Unasul. Desde ontem, é a vez do Chile.
A pressão de Bolívia, Venezuela e Equador para criação imediata de um Parlamento Sul-Americano, com sede em Cochabamba, foi diplomaticamente podada. O tratado prevê que a formação dessa Casa será objeto de protocolo adicional. O texto firmado ontem deverá entrar em vigor 30 dias depois de nove países, no mínimo, terem ratificado o tratado nos seus Congressos.
O Estado de São Paulo

Jefferson Péres morre aos 76
Senador do PDT, cuja marca principal era a defesa da ética na política, teve um enfarte em casa, em Manaus
Vítima de um enfarte fulminante, o senador Jefferson Péres (PDT-AM), reconhecido pela permanente briga no Congresso em defesa da ética, morreu ontem, por volta das 6 horas, em sua casa, no bairro Adrianópolis, em Manaus. Aos 76 anos, o parlamentar tinha atuação dura, relatou casos rumorosos - como a cassação do ex-senador Luiz Estevão e um processo contra o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) - e era forte crítico do governo Lula, apesar de o seu partido integrar a base aliada. Sua morte foi lamentada no meio político, com manifestações das principais expressões nacionais.
A mulher do senador, a juíza aposentada Marlídice de Souza Carpinteiro Péres, de 60 anos, disse que o senador acordou no horário habitual, por volta das 5h30, tomou café e desceu as escadas de sua casa, de dois andares, para apagar as luzes do jardim. Não fez a costumeira caminhada ao redor da piscina, exercício que praticava todas as manhãs. Ao retornar para o quarto, sentou-se na cama e reclamou de forte dor no peito. “Estou passando mal”, disse.
Marlídice chamou o médico da família, César Cortez, mas não houve tempo para prestar socorro. “Ele era hipertenso arterial. Teve enfarte agudo fulminante, que causa parada cardíaca e respiratória”, explicou o médico. A mulher e dois filhos do senador, Ronald e Roger, estavam em casa. O terceiro filho, Rômulo, estava nos Estados Unidos, a passeio, e tentava ontem retornar a Manaus.
Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM) acompanhou Péres em sua última viagem de Brasília para Manaus. “Ele aparentava estar muito bem”, contou o tucano. Durante o vôo, conversaram sobre política, filmes e literatura. Eles desembarcaram na capital amazonense às 13h30 de quinta-feira. Naquela tarde, Péres acessou sites de notícias, colocou em dia artigos que publicava em jornais e organizou a agenda. “Foi um nome que o Amazonas doou para o País. Uma referência de ética e de moralidade”, lamentou Virgílio, ao saber da morte.
O velório movimentou ontem o Centro Cultural Palácio Rio Negro, antiga sede do governo do Amazonas. O enterro será hoje, às 16 horas, no cemitério São João Batista, no bairro Adrianópolis, onde Péres morava. O governo estadual decretou luto por três dias. No Senado, a bandeira ficará a meio mastro por esse mesmo período.
REPERCUSSÃO
Ultimamente, Péres defendia abertamente uma ampla investigação sobre as suspeitas envolvendo o deputado Paulinho Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, filiado ao seu partido. Da mesma forma, criticava o governo Lula, embora seu partido componha a base aliada no Congresso.
A notícia de sua morte se espalhou e levou ao Congresso, em plena sexta-feira pós-feriado, todos os senadores que estavam em Brasília. O presidente do Congresso, Garibaldi Alves (PMDB-RN), foi imediatamente à Casa, abriu a sessão consternado e referiu-se ao pedetista como um “um senador franzino e pequenino que se agigantava” na defesa da democracia.
“Perdemos um grande senador, grande homem público, um homem dedicado à defesa da democracia, um dos sustentáculos da coluna vertebral do Senado”, discursou Garibaldi. “Foi-se um guerreiro de luta e coerência. É uma perda muito difícil”, disse a senadora petista Serys Slhessarenko (MT).
“Essa morte, de chofre, nos deixa a todos consternados. Péres foi um companheiro altivo, independente, que sempre mereceu o nosso respeito, até quando discordávamos dele. Era um homem íntegro, probo e um baixinho que provou que tamanho não é documento”, afirmou o senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC).
Também senador pelo Amazonas, João Pedro (PT) era um dos mais emocionados. “Fui vereador com ele nos dois mandatos em Manaus e também fomos eleitos senadores juntos. O Amazonas perde muito pelo homem público que era o senador Jefferson Peres, referência nacional. Senador franco, duro, exigente, mas profundamente ético”, afirmou.
Médico, o senador Mão Santa (PMDB-PI) disse que o colega não tinha “perfil” para ser vítima de enfarte. Funcionários do gabinete de Péres receberam centenas de telefonemas de solidariedade. “A saúde estava em dia”, afirmou um assessor.
REPERCUSSÃO
José Serra (PSDB)
Governador de São Paulo
“Ele era um conselheiro. Pessoalmente, eu perco um amigo e alguém que sempre me incentivou na luta política. Jefferson foi dos nossos
melhores senadores e melhores integrantes do Congresso. Era um homem firme, sereno, de convicções democráticas profundas, muito bem preparado”
José Múcio Monteiro
Ministro das Relações Institucionais
“A democracia amanhece empobrecida. Jefferson Péres foi um homem que
pautou a sua vida pelos princípios da ética e da moralidade”
Nelson Jobim
Ministro da Defesa
“Era um homem importante, um grande amigo. Desempenhava um papel
dentro do Senado que tinha uma funcionalidade muito forte. É uma grande perda”
Carlos Lupi
Ministro do Trabalho e ex-presidente do PDT
“Travou batalhas inesquecíveis, colocando sempre em primeiro plano seu amor e sua ferrenha defesa aos princípios básicos da ética política”
Marco Aurélio Garcia
Assessor especial da Presidência
“Em alguns momentos tivemos divergências sobre política externa, mas,mesmo que eu discordasse de alguns pontos de vista dele, obviamente que ele queria o melhor para o Brasil”
Gilmar Mendes
Presidente do STF
“Era um homem extremamente correto, probo e dedicado às causas e interesses do País”

Aécio Neves (PSDB)
Governador de Minas Gerais
“Jefferson Péres entra para a história brasileira como um dos homens que honraram a atuação como parlamentar levando às últimas conseqüências a honrosa tarefa de representar com altivez seus conterrâneos”
Geraldo Alckmin (PSDB)
Ex-governador de São Paulo
“Ao longo de sua vida, Jefferson Péres não apenas defendeu os legítimos interesses da população do Amazonas, mas exerceu a política com ética e honra, tornando-se, assim, uma referência para o Senado, o Congresso e o Brasil”
Paulo Pereira da Silva (SP)
Deputado e presidente nacional do PDT
“Ele dedicou sua vida em prol do bem público, era um homem íntegro e referência ética no Congresso”
Garibaldi Alves
Presidente do Senado
“Perdemos um grande senador, um grande homem público, um homem dedicado à defesa da democracia e que era um dos sustentáculos da coluna vertebral do Senado. Era um grande peregrino em defesa da ética”
Cristovam Buarque
Senador pelo PDT-DF
“Com o falecimento do senador Jefferson Péres morre também a moral da política brasileira”
Serys Slhessarenko
Senadora pelo PT-MT
“Foi-se um guerreiro de luta e coerência. Para nós, é uma perda muito grande, muito difícil”
Mozart Valadares Pires
Presidente da AMB
“Símbolo da independência política, o senador lutou pela democracia durante toda a sua carreira com uma postura ética irrepreensível”
O Estado de São Paulo

Violência se espalha e chega à Cidade do Cabo
Confrontos xenófobos na capital legislativa da África do Sul matam 1 estrangeiro e obrigam 420 a fugir
A violência contra imigrantes, que teve início há duas semanas na periferia de Johannesburgo e já deixou 43 mortos, espalhou-se ontem até a Cidade do Cabo - capital legislativa da África do Sul -, no litoral do país.
Um somali foi morto e mais de 15 agressores foram presos em confrontos durante a madrugada. A polícia retirou 420 imigrantes das favelas da cidade, para evitar novos conflitos. Dezenas de lojas e casas foram destruídas. “Conseguimos estabilizar a área por volta das 2 horas. Agora, há 200 policiais e membros da Guarda Nacional no local”, disse o chefe da polícia, Billy Jones, à CNN.
Os imigrantes foram retirados da periferia da Cidade do Cabo em ônibus da prefeitura e levados para centros comunitários e igrejas. Eles fugiram depois de terem sido ameaçados por multidões - que se formaram após um encontro no qual se buscava formas de aliviar a tensão.
Segundo Jones, o somali - cujo nome não foi divulgado - foi morto ao ser atropelado por um carro, quando tentava fugir de um grupo armado com facões. Outros 12 imigrantes ficaram feridos.
Os ataques contra estrangeiros - especialmente de países vizinhos como Zimbábue e Moçambique - já obrigaram 28 mil a abandonar suas casas. Muitos estão retornando para seus países.
ÊXODO
A leva de imigrantes de volta para casa fez com que o governo de Moçambique decretasse ontem estado de emergência e liberasse verba extraordinária para lidar com a situação. O chanceler Oldemiro Baloi disse que a decisão foi tomada após 10 mil moçambicanos terem voltado da África do Sul.
Só na quinta-feira, 620 moçambicanos chegaram a Maputo, vindos de Johannesburgo. Para Baloi, “o êxodo vai piorar” quando milhares de pessoas em fuga conseguirem encontrar um meio de transporte para retornar ao país.
Muitos sul-africanos pobres acusam os estrangeiros de roubar seus empregos, provocar a falta de moradia e fomentar a violência nas grandes cidades. Há cerca de 5 milhões de imigrantes na África do Sul - 3 milhões são zimbabuanos.
Organizações humanitárias informam agora a preocupação com um novo risco para os imigrantes: doenças contagiosas estão se espalhando pelos acampamentos onde eles estão abrigados.
Bianca Tolboom, da ONG francesa Médicos Sem Fronteiras, disse que os campos estão superlotados e há problemas no acesso à água potável. “Algumas pessoas ficam ao ar livre, sem agasalhos. Uma das principais preocupações são epidemias de doenças respiratórias, infecções e diarréia”, disse.

Thursday, May 22, 2008

Temporão recorre ao Exército


Ministro anuncia que pedirá ajuda às Forças Armadas para levar médicos a 200 municípios na fronteira do país. Ao todo, mil cidades brasileiras não têm nenhum profissional da área à disposição

Da Redação

Os habitantes dos rincões do Brasil que contam apenas com benzedeiras e ervas medicinais para curar seus males podem ter, finalmente, o direito constitucional de saúde garantido. O Ministério da Saúde quer levar médicos para cerca de 200 municípios na fronteira do Brasil onde não existem profissionais da área. Para suprir a falta do principal responsável pela promoção da saúde da população, o ministro José Gomes Temporão quer recorrer ao Exército e à Marinha. Mas o Conselho Federal de Medicina (CFM) lembra que o déficit de médicos não é por falta de pessoal, mas pela falta de uma política de promoção do segmento.

“No total, temos mil municípios sem médicos”, observou ontem Temporão, que promete para junho a finalização de uma proposta em discussão no governo para resolver a deficiência na área. Temporão disse que a Saúde está negociando com o Ministério da Defesa para que as Forças Armadas fiquem encarregadas de dar assistência médica a 20% das cidades que não dispõem de médicos. “Principalmente as que ficam nas fronteiras, mediante um repasse de recursos. Temos de chegar a essas pessoas de alguma forma”, ressalta.

O Ministério da Defesa já atua no atendimento a comunidades distantes. Em regiões da Amazônia onde só se chega de barco ou avião, por exemplo, a Força Nacional Terrestre monta hospitais de campanha e realiza atendimentos médicos. Já a Marinha atua por meio de embarcações de assistência hospitalar. Na semana passada, o navio Oswaldo Cruz concluiu atendimento a 20 comunidades ribeirinhas do Vale do Javari. Segundo informações do Comando do 9º Distrito Naval da Marinha, em Manaus, foram realizados 4,7 mil procedimentos de saúde como atendimentos médicos, odontológicos, de enfermagem e vacinação.

Déficit
A declaração do ministro foi feita no dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um estudo constatando que a falta de médicos chega a 4,3 milhões no mundo. Segundo o levantamento, um dos principais problemas seria a falta de investimentos dos países em desenvolvimento. Segundo o ministro Temporão, está em estudo a criação de uma nova carreira no sistema público para atrair médicos para essas regiões mais remotas.

“É só fazer concurso público com perspectivas profissionais que vai ter médico nos rincões do país”, dispara o integrante do Conselho Federal de Medicina (CFM) Geraldo Guedes, coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS do conselho. “Carreira de estado como juiz e promotor vai para essas regiões porque tem perspectiva de ir para locais melhores depois de cumprir um tempo de serviço. As Forças Armadas vão cobrir um espaço onde o Estado se omitiu. Falta políticas de incentivo e o governo sabe disso”, diz.

Segundo Guedes, o CFM entregou ao Ministério da Saúde no ano passado uma análise da situação do atendimento médico no país. “Constatamos uma situação de falência da área. Além da fronteira, falta profissional de saúde na periferia das grandes cidades. Em março deste ano mandamos carta para o presidente Lula. De que adianta médico sem estrutura para trabalhar com dignidade”, ressalta. Dados do conselho mostram que o Brasil conta com 319 mil médicos. “Temos uma boa relação de médicos por número de habitantes no país. O problema está na distribuição geográfica da categoria porque o mercado é o único instrumento de distribuição de profissionais hoje”, explica Guedes. Estima-se que 75% dos 186 milhões de habitantes do país recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS). “São 140 milhões de pessoas que dependem de atendimento médico da prevenção à alta complexidade, já que apenas 40 milhões de brasileiros têm plano de saúde”, destaca o médico.

Folha de São Paulo TURISMO
Velha prisão foi transformada em três museus

Além de instalações da Marinha, a Argentina reforçou o povoado de Ushuaia com a construção de uma prisão -os prisioneiros foram encarregados das obras civis- que funcionou entre 1902 e 1947.
Ela era reservada a prisioneiros perigosos. Mas há versões de que o cantor Carlos Gardel (1890-1935), antes de iniciar a carreira artística, tenha sido um pensionista forçado das instalações.
A prisão virou hoje três museus, ao lado de um pequeno e interessante Museu da Marinha.
O primeiro é sobre a vida na colônia penal. E os dois outros, espaços para exposições de artes plásticas. (JBN)

Folha de São Paulo BRASIL
Minc diz que devastação cresceu e põe culpa em MT

O mais recente estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre desmatamento na Amazônia responsabilizará o Estado de Mato Grosso por mais de 60% das ocorrências, disse Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente.

Os detalhes do estudo serão conhecidos na semana que vem, afirmou Minc, que esteve reunido no Rio com a cúpula do Inpe. Mesmo sem se aprofundar no assunto, o novo ministro usou as conclusões do instituto para criticar o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), que o atacara na véspera.
"Segunda-feira agora, o Inpe vai divulgar uma nova estatística de desmatamento de terra. (...) Vai ser um dado ruim, vai ser um dado de aumento. E, para variar, mais de 60% em qual Estado? Quem sabe? Mato Grosso", disse Minc, na entrevista concedida na Secretaria do Ambiente do Estado do Rio.

O ministro sugeriu a Blairo que passe a atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O governador Blairo Maggi é um homem público. Como todo homem público, tem que assumir responsabilidades. (...) Não quero impor nada a ninguém. Pelo contrário, estou chegando agora. (...) O presidente Lula disse OK [à proposta da guarda ambiental]. A partir de agora o Blairo não deve brigar comigo, deve brigar com o presidente", disse Minc, que toma posse na terça.

O novo ministro voltou a defender mais rapidez nos licenciamentos, em resposta ao futuro presidente do Ibama, Roberto Messias Franco, que disse à Folha não ver motivos para agilizar a emissão das licenças. Segundo Minc, Messias Franco aceitou o cargo "nesses termos". O ideal, segundo ele, é que 10% do tempo dos funcionários do Ibama encarregados de licenciamento seja dedicado à análise da "burocracia", para "focar 90% no que interessa".

Para o ministro, "há dois caminhos para resolver bem a questão do agronegócio". Um é o que chama de zoneamento econômico-ecológico, que interessa "ao pessoal mais avançado do agronegócio" porque "dá uma regra clara: aqui pode, aqui não". O outro é "um setor que é atrasadíssimo, que está convertendo a Amazônia em pasto". Reiterou ser contra energia nuclear e a construção de Angra 3, mas como o governo já decidiu por ela, acatará a decisão sem questionamentos.

O Globo O PAÍS
Brasil quer criar Conselho de Defesa
Proposta será debatida em reunião de países sul-americanos amanhã

BRASÍLIA. Com o argumento de que é sempre mais fácil resolver os problemas conversando de forma pacífica, com base no diálogo construtivo, o governo brasileiro trabalha para que, na reunião de presidentes da América do Sul, que acontecerá amanhã, em Brasília, seja criado o Conselho de Defesa Sul-Americano. A proposta foi levada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, aos países da região e, segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a expectativa é que a idéia receba a adesão das nações sul-americanas:

- Estamos confiantes. Isso só será benéfico para todos. Permitirá a discussão de temas e o esclarecimento de situações equívocas - disse Amorim, após participar de uma audiência pública no Senado. - Esperamos a adesão de todos.

Os chefes de Estado que estarão reunidos em Brasília vão assinar o tratado constitutivo da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). O Conselho de Defesa, explicou o ministro das Relações Exteriores, deverá ser criado em um ato à parte.

Algumas questões deverão ser discutidas, como a crise desencadeada pela incursão de tropas colombianas no Equador - quando foram mortos dezenas de guerrilheiros, entre eles o segundo homem das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes - e a necessidade de cooperação entre os exércitos dos países amazônicos, para preservar a Floresta Amazônica e proteger os povos que nela vivem.

O objetivo é promover uma articulação de políticas regionais de defesa, a organização de exercícios conjuntos e a harmonização de forças de paz. Outra diretriz consiste em uma aproximação entre as indústrias, o que poderia resultar na produção e exportação conjunta de armamento, veículos e equipamentos em geral da indústria bélica. O assunto foi tratado ontem por Jobim e o presidente Lula.

Fontes do Ministério da Defesa disseram que há respaldo para a criação do conselho de todos os países sul-americanos, "uns mais entusiastas que outros", caso da Colômbia, que ainda está analisando o tema. Uma das alternativas para agradar os colombianos é escolher Bogotá como sede do conselho.

Brasil informou aos EUA sobre proposta do conselho
As explicações sobre o Conselho de Defesa foram dadas ao governo dos Estados Unidos. Fontes da área diplomática comentaram que a Casa Branca estaria convencida de que a investida brasileira tem como alvo a cooperação, a amizade, a resposta mais rápida aos desastres naturais, as missões de país e o combate ao narcotráfico.

O Globo O PAÍS
Pressão mantém reajustes de servidores
Governo manda projeto de lei ao Congresso, mas não retira MPs da pauta

BRASÍLIA. Pressionado de um lado pelo Congresso - que reclama do excesso de medidas provisórias - e de outro pela equipe econômica - que diz não ter folga de caixa para novas despesas -, o governo encontrou uma saída intermediária para manter o reajuste salarial dos servidores públicos, principalmente dos militares. O Planalto resolveu mandar ainda ontem um projeto de lei para o Congresso, com urgência urgentíssima, abrindo crédito extraordinário de R$7,6 bilhões, para custear o reajuste. No entanto, as medidas provisórias que tratam dos dois assuntos não serão retiradas, como sugeriam os líderes do governo na noite de terça-feira. Só depois que o Congresso aprovar o projeto, será revogada a medida provisória do crédito extraordinário.

A retirada da medida provisória do crédito extraordinário, negociada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), com os líderes partidários, foi rechaçada pelos ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Nelson Jobim (Defesa). Anteontem à noite, Jobim teve um diálogo ríspido com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que apoiou a iniciativa de Jucá. Jobim não quer contratempos que inviabilizem o aumento dos militares.

- Durante a noite, recebi um telefonema do ministro Nelson Jobim dizendo que a medida provisória e seus efeitos já estavam em vigor. Portanto, ela continua vigendo. Com o envio do projeto de lei, o que está acontecendo não sofrerá solução de continuidade, porque tem a proteção da MP - afirmou Múcio.

Num primeiro momento, Jucá sugeriu a substituição das duas MPs por projeto de lei. Depois, propôs que somente a medida provisória do crédito extraordinário fosse retirada, mas Paulo Bernardo argumentou que, se isso fosse feito, não haveria dinheiro para bancar os reajustes. O projeto de lei vai tramitar em regime de urgência constitucional - terá 45 dias para ser votado na Câmara e no Senado.

- Nós mandamos o crédito porque o volume de receita que está no Orçamento não é suficiente (para custear o aumento salarial). Se eu retirar o crédito, não tem dinheiro no Orçamento para dar o reajuste - afirmou Paulo Bernardo, fazendo prevalecer a proposta de manter as duas MPs tramitando até a votação do projeto de lei.

O reajuste beneficiará 17 categorias de servidores federais - 800 mil pessoas - e os militares das Forças Armadas. O aumento dos servidores civis vai custar R$3,4 bilhões. Os percentuais de aumento dos civis são variados: na Polícia Federal, por exemplo, o menor é de 11,05% e o maior, 101,97%. Nas carreiras da Previdência, Saúde e Trabalho chega a 137%. O impacto do aumento dos militares, entre 35,31% e 137,83%, é de R$4,2 bilhões. Os reajustes serão parcelados em três anos.

O Globo O PAÍS
A 'casca de banana atômica'

O licenciamento ambiental da usina de Angra 3 virou, nas palavras de Carlos Minc, "uma casca de banana atômica". Ontem, ele foi obrigado a deixar o histórico de opositor à energia nuclear e adotou um discurso político, de quem discorda mas precisa aceitar as condições impostas pelo governo. Minc disse acreditar que "o Brasil é a terra do sol, dos ventos e da biomassa". Mas deixou claro que não pretende se desgastar com o governo federal por isso.

- Sou conhecido por ser adversário do uso da energia nuclear, como o Fernando Gabeira, a Marina Silva e vários outros. Só que sou do governo. Quando o assunto foi votado no Conselho Nacional de Energia, a ex-ministra votou contra e foi voto vencido. Se estivesse lá, votaria como ela - disse Minc. - Até espero que a maior parte das nossas bandeiras sejam aprovadas pelo governo. Mas não tenho a pretensão de ser um cara mimado, que quer impor sua posição em todos os casos. O licenciamento será tratado com o rigor da lei e das compensações ambientais. (T.B.)

O Globo O PAÍS
Mais indústrias na floresta
Mangabeira expõe planos para Amazônia e é aclamado por ruralistas
Evandro Éboli

BRASÍLIA. O ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, saiu da Câmara ontem elogiado por representantes da bancada ruralista depois de expor seus planos para a Amazônia. No mesmo dia em que o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, admitiu que o desmatamento voltou a crescer, Mangabeira disse ser preciso vincular a floresta à indústria, instalando na Amazônia empresas que transformem os produtos florestais. Para alegria de parlamentares ligados ao agronegócio e a madeireiros, ele defendeu a instalação de indústrias na região e a flexibilização do direito de propriedade privada.

Mangabeira, coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), ressaltou que não se pode ver a região como um santuário intocável sem o desenvolvimento de ações produtivas, e defendeu alternativas "ambientalmente seguras e economicamente viáveis":

- O que a população da Amazônia mais quer é oportunidade de emprego. É preciso criar meios práticos para efetivar essa aspiração.

"Faltaram visão econômica e segurança jurídica"

Também disse que, se a população da região, os pequenos produtores e os extrativistas não tiverem oportunidades e instrumentos econômicos, "serão levados mesmo a desmatar". O ministro afirmou, em audiência na Comissão da Amazônia, que as duas principais atividades econômicas na região são a produção da Zona Franca de Manaus e a mineração no Pará.

- São atividades econômicas que têm pouco a ver com a floresta.

O ministro citou várias vezes a necessidade de se fazer o zoneamento econômico e ecológico da Amazônia, um levantamento cartográfico que irá não apenas identificar os diversos biomas da Amazônia, mas apontar a exploração econômica mais adequada para cada região.

- Há muito tempo se fala nesse zoneamento. Fala-se muito e faz-se muito menos. Faltaram visão econômica e segurança jurídica.

Mangabeira disse que é preciso resolver o problema fundiário da Amazônia, onde proprietários de terra não têm a titulação da área. Ele disse que esse fator gera insegurança jurídica:

- É preciso uma revisão do arcabouço jurídico. Nenhum país continental resolveu isso sem simplificar o direito de propriedade. É necessário sair da situação de posse insegura para a posse segura da terra.

O ministro elogiou recente decisão do governo de dispensar licitação para transferência de terras para particulares, mas considerou esta medida ainda insuficiente.

- É preciso mais. Tem que se permitir a quem goza da posse da terra que goze também das prerrogativas da propriedade.

Mangabeira defendeu o pagamento de uma remuneração específica para pequenos produtores e extrativistas, segundo ele uma espécie de compensação mensal pela vigilância da terra.

A audiência não chegou ao fim. O ministro tinha um compromisso e teve que se retirar, o que irritou alguns parlamentares.

- É uma deselegância isso. Nós também temos compromissos e os deixamos de lado para comparecer aqui e não só para ouvir, mas também para falar - protestou Márcio Junqueira (DEM-RR), ligado ao líder arrozeiro Paulo César Quartiero.

"É bom saber que o senhor tem outra visão", comemora ruralista
O ministro pediu desculpas e comprometeu-se a retornar.
Deputados ligados a fazendeiros e madeireiros, como Giovanni Queiroz (PDT-PA), parabenizaram o ministro:

- O Ministério do Meio Ambiente tem sido omisso e acomodado. Que bom saber que o senhor tem outra visão e pretende tirar a Amazônia do estrangulamento econômico que vive.

- O fundamentalismo está sendo substituído pela inteligência - disse Nilson Pinto (PSDB-PA).

O Globo O PAÍS
POLÍTICA AMBIENTAL
Minc: desmatamento aumentou
Tulio Brandão e Anselmo Carvalho Pinto

Em resposta a Maggi, ministro diz que Mato Grosso é maior responsável por avanço da devastação
- Na próxima segunda, o Inpe vai divulgar dados estatísticos de desmatamento em tempo real. Vai ser um dado ruim, de aumento. E, para variar, mais de 60% em que estado? Em Mato Grosso - disse o ministro.

De acordo com a assessoria do Inpe, o sistema Deter, divulgado mensalmente, é sujeito a imprecisões por não ter resolução suficiente para identificar desmatamentos menores que 25 hectares e sofrer com a influência das nuvens. Nem toda área de corte de árvores é identificada. Segundo o instituto, a possibilidade de observação em Mato Grosso aumentou muito de março para abril, já que apenas 14% da área daquele estado esteve sob nuvens no mês anterior.

O levantamento de desmatamento mensal é feito pelo Inpe desde maio de 2004, com dados do sensor Modis, do satélite Terra/Aqua, e do Sensor WFI do satélite CBERS, de resolução de 250 metros. Segundo o instituto, há uma possibilidade remota de os dados completos do mês de abril serem divulgados amanhã.

Governo de MT estranha dados
No último levantamento do Deter divulgado pelo Inpe, relativo a março, mais da metade dos pontos de desmatamento identificados na Amazônia já estavam em Mato Grosso - 27 de 52. Minc disse ontem, durante entrevista de apresentação da nova secretária do Ambiente do Rio, Marilene Ramos, que Maggi terá que assumir responsabilidades com o presidente Lula. O presidente já teria autorizado Minc a solicitar aos governadores o uso da PM no combate a crimes ambientais.

- Estou chegando agora, não quero criar polêmica. Eu conversei inicialmente sobre o Exército. O ministro Tarso Genro (Justiça) sugeriu o outro caminho (da PM), explicou que era mais simples. Levamos a questão ao Lula, que deu o OK. A partir de agora, o Blairo não deve brigar comigo, e sim com o presidente Lula, que já bateu o martelo - afirmou o novo ministro.

O governo de Mato Grosso reagiu à declaração de Minc sobre o aumento do desmatamento. O secretário-adjunto de Qualidade Ambiental, Salatiel Alves de Araújo, estranhou a divulgação dos dados pelo novo ministro:

- Essas informações são estranhas. Estão totalmente desconexas com a metodologia utilizada pelo Inpe. Estamos averiguando para saber que números novos são esses.

Segundo Araújo, o Inpe não tabulou o desmate dos primeiros meses de 2007, o que impediria comparação com o mesmo período em 2008:

- Ele (Minc) fala em aumento nos primeiros cinco meses do ano, mas maio nem terminou. É estranho.

O governo de Mato Grosso insiste que, ao contrário do que tem sido informado, o desmatamento no estado diminuiu nos últimos cinco anos. Em seu favor, usa os números do Inpe consolidados pelo Prodes, de monitoramento da Amazônia por satélite. Segundo o Prodes, a área devastada no estado caiu de 11.814 km² entre 2003 e 2004 para 2.476 km² entre 2006 e 2007. Os dados são de agosto a agosto.

O secretário também contesta a divulgação pelo ministério de dados do Deter, como dados consolidados:

- O Deter serve para mostrar indícios de desmatamento. O Prodes é o número final, com o qual dá para fazer comparações entre um ano e outro.

O Globo ECONOMIA
YES, NÓS TEMOS ENERGIA
Descobertas a toque de caixa
Ramona Ordoñez e Juliana Rangel

Petrobras anuncia mais óleo no pré-sal em corrida contra o tempo para garantir blocos
APetrobras anunciou ontem mais uma descoberta em águas ultraprofundas na Bacia de Santos, abaixo da camada de sal, numa área batizada de Bem-te-vi. Foi o sexto anúncio desde o ano passado. Segundo uma fonte da estatal, a companhia corre contra o tempo: com só três sondas capazes de perfurar em grande profundidade, precisa confirmar a existência de petróleo ou gás nos sete blocos no pré-sal de Santos antes do vencimento dos contratos de concessão que tem com a Agência Nacional do Petróleo (ANP). A maioria vence até outubro. Os blocos têm de ser devolvidos à ANP, se não houver descobertas até lá.
Em consórcio no qual é operadora e sócia da Shell e da portuguesa Galp Energia, a Petrobras descobriu petróleo de boa qualidade, em um poço no bloco BMS-8, a 250 km da costa de São Paulo e a uma profundidade total de 6.773 metros. A estatal não divulgou estimativas de reservas.
Segundo a fonte, a Petrobras identifica indícios de petróleo e desloca a sonda para outro bloco, ganhando mais prazo para apresentar à ANP seu plano de avaliação. Um dos fatores importantes na descoberta de ontem é que o petróleo está a mais de 6 mil metros, contra os 5 mil de Tupi, Júpiter e Carioca - quanto a este, o presidente da ANP, Haroldo Lima, declarou mês passado que as reservas seriam de 33 bilhões de barris, o que foi desmentido pela Petrobras.
- Descemos a uma profundidade maior e a estrutura de petróleo continua, é bem extensa - disse a fonte.
Descobertas podem formar único campo
Já se descobriram indícios também no BMS-21 (Caramba) e no BMS-10 (Parati). Uma das sondas está indo para a área Yara, no BMS-11, onde fica Tupi. Outra está em Carioca, e a terceira vai para o BMS-24, onde fica Júpiter. No BMS-22, operado pela Exxon em consórcio com a Petrobras, ainda não foram feitas descobertas.
Cogita-se que todas as áreas do pré-sal de Santos formam um único campo, com até 50 bilhões de barris de óleo recuperável. Segundo o geólogo Giuseppe Bacoccoli, da Coppe/UFRJ, acreditava-se que o maior campo do mundo - Gawar, na Arábia Saudita - fossem vários campos em separado e, depois, constatou-se que era um só.
- Como se trata de uma área contígua a Tupi, qualquer coisa que seja descoberta no entorno vai deixar o mercado animado - diz o analista Felipe Cunha, da Brascan.
As ações preferenciais da Petrobras (PN, sem direito a voto) fecharam a R$52,51, com alta de 1,64%. As ações ordinárias (ON) subiram 1,3%, para R$62,30. Em sete dias, as ações PN avançaram 13,41% e as ON, 12,53%.
A expectativa do anúncio da descoberta, feita após o fechamento do mercado no Brasil, impulsionou as ações de parceiras da Petrobras no exterior. Em Nova York, as ações da Shell avançaram 2,51%, enquanto as ADRs da Petrobras, 1,46%. Em Portugal, as ações da Galp Energia subiram 3,9%. Anteontem, o presidente-executivo da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, afirmara, ao anunciar lucros acima do esperado, que os desdobramentos das perfurações em Bem-te-vi seriam anunciados em breve.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem que a Petrobras seja "o motor do desenvolvimento brasileiro", comprando máquinas e insumos do mercado nacional.
- A Petrobras vai crescer muito, e eu quero que os navios, as plataformas e as sondas sejam todos produzidos aqui, gerando mais empregos e mais renda - disse Lula, no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), segundo participantes.
Durante o dia, a Petrobras chegou a superar a General Electric (GE) como quinta maior empresa do mundo, com valor de mercado de US$313,8 bilhões. A GE caiu 2,3% em Nova York, o que reduziu seu valor para US$308,9 bilhões. Mas no fechamento da Bovespa, a estatal voltou a US$307,8 bilhões.

O Globo ECONOMIA
BB negocia compra do banco paulista Nossa Caixa
Objetivo da instituição é liderar mercado em São Paulo, onde ocupa o 4º lugar. Analista estima operação em pelo menos R$9 bi
Aguinaldo Novo, Henrique Gomes Batista e Geralda D

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Buscando desbancar a concorrência no mercado paulista - no qual, apesar de líder nacional, amarga a quarta posição -, o Banco do Brasil (BB) anunciou ontem à noite que iniciou negociações para a compra da Nossa Caixa. O banco, controlado pelo governo de São Paulo, tem ativos de R$47,431 bilhões - que renderam lucro líquido de R$114,9 milhões no primeiro trimestre deste ano, 31% a mais do que no mesmo período de 2007 - e 5,7 milhões de clientes. A operação depende de aval da Assembléia Legislativa de São Paulo.

A Nossa Caixa é vista no mercado como "a grande jóia" entre os bancos estaduais. Seu principal trunfo são as receitas provenientes da administração da folha de pagamento do governo paulista, cujo direito foi comprado em 2007 por R$2 bilhões.

O presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, estima que o BB teria de gastar na operação entre 3 e 3,5 vezes o patrimônio líquido da Nossa Caixa (R$2,9 bilhões), o que corresponderia a pelo menos R$9 bilhões.

A intenção do negócio, sem prazo para conclusão, foi informada em fato relevante enviado à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
- Essa postura faz parte de uma estratégia adotada desde o ano passado, com as negociações para a incorporação do Besc (banco estadual catarinense) e do BRB (do governo do Distrito Federal). Mas também tivemos outras ações, como abertura de uma diretoria de cartão de crédito, que nos possibilita oferecê-los aos não-clientes, criação do financiamento imobiliário e reforço em nossa presença no financiamento de veículos - afirmou Antonio Lima Neto, presidente do BB.

Segundo ele, a aquisição levaria o BB a disputar a liderança do mercado paulista:

- O estado é a arena bancária mais competitiva do país.

Na semana passada, o BB anunciou que absorverá o Banco Popular, subsidiária criada em 2003 para atender a baixa renda e que nunca obteve lucros.

Segundo Lima Neto, as tratativas iniciais foram técnicas e sem conversas diretas com o governador José Serra (PSDB).

O Globo O MUNDO
Líbano: acordo põe fim a crise
Hezbollah terá poder de veto em decisões do governo e lei eleitoral será modificada

TEL AVIV. Após seis dias de diálogo em Doha, no Qatar, representantes do governo libanês e da oposição, liderada pelo grupo xiita Hezbollah, chegaram a um acordo para pôr fim a 18 meses de crise que deixaram o Líbano à beira de uma guerra civil. Numa negociação mediada pela Liga Árabe, o documento final prevê reformas eleitorais e a nomeação de um novo presidentes, além de dar poder de veto à oposição. O acordo é considerado por analistas uma vitória do Hezbollah após uma violenta demonstração de força que paralisou o país há duas semanas.

O Parlamento libanês convocou uma sessão para domingo para nomear o comandante do Exército, o general Michel Suleiman, presidente, cargo vago há seis meses. A coalizão de maioria sunita que sustenta o premier, Fuad Siniora, formará um governo de união nacional.

Coalizão no poder terá 14 dos 30 ministros, oposição 11

O documento determina que a coalizão 14 de Março vai manter 14 das 30 pastas do Gabinete e o poder de escolher o premier. A oposição fica com 11 ministros, e outros três serão escolhidos pelo presidente. O acordo também prevê a discussão de novas leis eleitorais que garantam maior representatividade aos 18 grupos étnicos e religiosos do Líbano nas próximas eleições, ano que vem. Em troca, os opositores garantiram que não vão recorrer às armas em caso de novas divergências políticas.

Irã e Síria, que apóiam o Hezbollah, elogiaram o acordo. Mas analistas temem que as concessões feitas ao grupo podem afetar a credibilidade do 14 de Março, e ainda há ceticismo quanto à estabilidade do país. Há poucos dias, o líder do partido Mustaqbal, Saad Hariri, garantiu aos libaneses não estar disposto a revogar as medidas tomadas contra o grupo radical. Ontem, horas após a assinatura da resolução, Hariri comemorou, afirmando que o entendimento era uma vitória que colocaria o Líbano numa nova era.

O país está sem presidente desde novembro de 2007, quando Emile Lahoud, pró-Síria, deixou o cargo. A crise se agravou há duas semanas, quando o governo anunciou medidas para investigar o Hezbollah. O grupo respondeu com protestos que se transformaram em confrontos entre milícias governistas e oposicionistas em diversos pontos do Líbano. Pelo menos 65 pessoas morreram. (R.M.)

Monday, May 12, 2008

Europa e América Latina atacam fome e aquecimento
Mais de 40 chefes de Estado se reúnem na capital peruana para acertar mecanismos de apoio a desenvolvimento com face social e ambiental
Silvio Queiroz

Pelo menos 47 chefes de Estado e governo haviam confirmado presença, até a última sexta-feira, na quinta reunião de cúpula entre a União Européia e os países da América Latina e Caribe, que se realizará em Lima entre a próxima terça-feira e o sábado. Combate à pobreza e desenvolvimento sustentável, que contemple inclusão social, segurança energética e preservação do meio ambiente, são os temas oficiais da agenda. Na ante-sala do encontro, porém, as duas regiões deixam entrever diferenças significativas de abordagem para preocupações consensuais, e expectativas de maior compromisso da contraparte, especialmente nas relações comerciais e no delicado tema da imigração.

“São temas do maior interesse do Brasil, e nos quais temos muita autoridade para nos dirigirmos à UE, já que somos pioneiros tanto nas iniciativas de combate à fome quanto no desenvolvimento de energias limpas”, disse um diplomata brasileiro envolvido diretamente na preparação da cúpula. O governo Lula tem a expectativa de aprimorar “a coordenação de posições” entre as duas regiões sobre ambos os assuntos, e vai cobrar dos europeus mais ênfase na transferência de tecnologia para ações capazes de contemplar tanto as preocupações sociais quanto as ambientais. Nesse terreno, o país oferecerá propostas de cooperação triangular em benefício dos países mais pobres da região, especialmente o Haiti, atingido em cheio pela alta dos preços dos alimentos. Em troca, espera da Europa que aporte mecanismos financeiros.

Um dos focos potenciais de dificuldades, desde o esboço da declaração conjunta que os chefes de Estado e governo assinarão na sexta-feira, está o endurecimento da legislação sobre imigração em vários países europeus. O texto deverá conter uma referência à “observância dos direitos humanos dos imigrantes”, mesmo os que apresentam situação irregular. “A gente pensa em um tratamento mais digno para os latino-americanos na Europa”, disse essa fonte do Itamaraty. “No Brasil, nenhum estrangeiro irregular é considerado criminoso, e não compreendemos que alguém vá para a prisão por não apresentar documentação suficiente.” Pelo lado europeu, em uma videoconferência com a imprensa latino-americana, durante a semana passada, a comissária européia para Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, enfatizou que a UE quer “compartilhar responsabilidades” com a América Latina no combate à imigração ilegal, ao tráfico de pessoas e outros crimes associados.

Comércio
À margem da cúpula, serão realizadas em Lima reuniões entre a UE e o Mercosul — tanto em nível de chanceleres quanto de presidentes e premiês — para explorar caminhos que permitam avançar para um acordo birregional de livre comércio. Na videoconferência de imprensa, o comissário de Comércio, Peter Mandelson, reafirmou que o bloco europeu atrela esse processo à conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio, travada pela disputa entre países ricos e em desenvolvimento sobre subsídios agrícolas. “O Mercosul está pronto para negociar, e a UE tem sinalizado informalmente a disposição de seguir em frente a despeito do andamento de Doha”, disse o diplomata brasileiro.
Parceria assimétrica

160 bilhões
de euros é o montante anual do comércio entre a UE e os países da América Latina e Caribe, que exportam comodities e importam bens industrializados

5%
é a participação latino-americana nas importações européias, enquanto a Europa representa 14% do mercado externo para a América Latina

400 bilhões
de euros é o estoque de investimentos da UE na região, o que representa 12% do total de investimentos externos diretos do bloco


Diário de Natal Cisne Branco chega para visitações

Na manhã de hoje o navio-veleiro Cisne Branco atraca novamente em Natal. O navio da Marinha do Brasil ficará aberto a visitação pública de amanhã até quarta-feira, entre às 14h e 18h, no Porto de Natal. A tripulação é composta por 11 oficiais e 49 praças, com o atual Comandante sendo o Capitão-de-Mar-e—Guerra Flávio Soares Ferreira.

O Cisne Branco representa o país em grandes eventos náuticos, tanto no Brasil quanto no exterior, e é similar a uma réplica das galeras do século XIX. Além disso, o navio também tem o intuito de fomentar a mentalidade marítima, as tradições navais e contribuir para a formação dos oficiais da Marinha do Brasil.

O navio foi construído em Amsterdã, na Holanda, no ano de 1998 e incorporado à Marinha do Brasil em março de 2000. Sua primeira viagem pela Marinha teve início às margens do Rio Tejo, em Portugal, no dia 09 de março, exatamente 500 anos após a partida de Pedro Álvares Cabral para o descobrimento do Brasil.

O projeto do Cisne Branco inspira-se nos desenhos dos últimos “Clippers” construídos no final do século XIX. A construção do navio ocorreu em tempo recorde, um ano e três meses, com o principal propósito de permitir ao Brasil participar com um navio de propulsão à vela, da histórica travessia em comemoração aos 500 anos de descobrimento do país, em 22 de abril de 2000.

O nome do navio é decorrente de um verso da música Cisne Branco, canção símbolo da Marinha do Brasil, também chamada Canção do Marinheiro. Este é o terceiro navio da Marinha do Brasil a ser batizado com esse nome.

Veleiro-escola

O veleiro Concórdia atracou no Porto de Natal às 9h de ontem, trazendo estudantes americanos e canadenses. Com bandeira de Barbados, o veleiro viaja ao redor do mundo levando estudantes em um programa de 10 meses, que além de apender sobre técnicas de marinhagem, conhecem um pouco da realidade dos países que visitam.

O navio vem da ilha de Santa Helena, no Reino Unido, e parte para Belém do Pará na próxima quarta-feira. Estão a bordo 39 estudantes, cinco professores e dez tripulantes. Um dos estudantes é John Ogle, natural da cidade de Calgary, no Canadá, que contou estar viajando desde o dia 1º de setembro de 2007 e já passou por cidades da América, Europa e África.

Para o estudante, de 19 anos de idade, o programa mudou totalmente sua visão de mundo e quando voltar para a Universidade, ele pretende cursar economia ou comércio exterior. ‘‘Gostei muito da África e depois de ter estado lá passei a ter vontade de ajudar organizações de cidades que conheci’’, afirma John.

A cada dois anos, o navio Concórdia visita os continentes Africano, Europeu e Americano, sempre fazendo parte do programa educacional.


Jornal do Brasil O que se passa nesta cabeça...
Em entrevista exclusiva, Beltrame avisa que não vai conseguir acabar com violência
André Balocco

O cenário, na chegada, é um tanto quanto sombrio. Em meio à desordem urbana que salta aos olhos misturando camelôs, prostitutas, menores infratores e policiais, a Central do Brasil surge imponente. Lá dentro está um dos homens mais poderosos do Estado: José Mariano Beltrame. Como todo bom gaúcho, este sulista, nascido em Santa Maria, não dispensa o chimarrão: basta uma rápida passada de olhos por sua mesa de madeira de lei que lá estão a cuia, a bomba e a erva, escondidos sob a bolsa verde com os dizeres ‘Chimarrão, símbolo de solidariedade’.
– Adoro a erva – diz, sem esconder o característico sotaque carregado de quem nasceu no Rio Grande.
Um pouco mais à esquerda, no impecável gabinete, está a miniatura de um caveirão, blindado muito utilizado pela Polícia Militar para penetrar nas favelas dominadas pelo poder paralelo. Foi neste cenário que o Jornal do Brasil entrevistou, com exclusividade, aquele que é um dos mais importantes pilares da política do governo Cabral.
Vencendo a desconfiança
De um início nervoso por conta da expectativa de mais um bombardeio de críticas, a conversa passou a fluir com naturalidade. Talvez a primeira pergunta tenha sido determinante para que a cordialidade se estabelecesse:
– Antes de tudo, secretário, gostaria de saber se o senhor é candidato a algum cargo na próxima eleição – perguntei.
A resposta veio rápida como os estragos que a polícia vem fazendo no crime organizado, segundo os números apresentados pelo Instituto de Segurança Pública.
– De maneira alguma. Não tenho qualquer pretensão política – avisou.
Daí para a frente o tempo passou mais rápido do que se imaginava. Em pouco mais de 70 minutos de conversa, interrompida apenas uma vez para que passasse ao governador Sérgio Cabral detalhes da operação policial no Leme, que terminou com dois presos na quarta-feira, o homem que apostou na política de confronto com o tráfico se abriu. O orgulho pelo aumento de apreensão de armas pesadas e drogas, desde que assumiu a secretaria, em janeiro do ano passado, está estampado no rosto do policial federal formado na turma de 1981 que, revela, sente saudade do front.
– Era muito bom ir para o combate – conta.
Na conversa, foram vários os assuntos. Descriminalização das drogas, uso de tecnologia militar pelo tráfico para reconstruir armamentos, a importância da inteligência no combate ao crime, a oportunidade histórica que o Estado tem para começar a recuperar o déficit social através do PAC nas favelas, o reconhecimento de que os policiais militares do Rio recebem um salário parco... Mas as revelações não param por aqui. Beltrame conta ainda que vai receber 500 fuzis FAL da Marinha brasileira, que 300 câmeras inteligentes, herança dos Jogos Pan-Americanos, estão encaixotadas em algum ponto da cidade por conta da burocracia, faz críticas à constante troca de secretários nacionais de segurança em Brasília e revela, com incrível segurança: a violência não vai acabar na sua administração.
– A polícia, hoje, enxuga gelo. Temos de estar sempre fazendo um trabalho de contenção para evitar a expansão da criminalidade. Por isso as obras do PAC são tão importantes para complementar este trabalho.
Então, vamos ao que interessa. A seguir, na página ao lado, a entrevista na íntegra que revela o que pensa José Mariano Beltrame, ou simplesmente Beltrame, sobre os problemas que afligem a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Um Rio que ele adotou como seu e aprendeu a amar.

Fala, Beltrame
Novos fuzis
A Marinha está nos cedendo 500 fuzis em lotes intercalados. A PM e a Polícia Civil necessitam deste armamento. Recebemos fuzis FAL 762 revisados, com mil carregadores e 100 vão para a Polícia Civil. Temos bons fuzis apreendidos, como o AK-47 (arma russa), mas há dificuldade para adquirir munição. É uma arma boa, leve, que mais se adapta aqui, mas tem a burocracia.
Armas com civis
A posse deve ser para quem tem necessidade de utilizá-la e isso recai no uso militar. Portanto, para o cidadão, não é bom ter uma.
Tráfico e Exército
O que posso dizer é que determinados equipamentos e explosivos apreendidos, além de armas, têm sido feitos por pessoas com conhecimento em manutenção e recuperação de armamento. E esta técnica não está disponível no mercado. Isso nos concorre a achar que há participação no tráfico. No Pavãozinho, semana passada, apreendemos explosivos que poderiam ser detonados à distância, por controle remoto. Isso não é coisa de amador, não se aprende na esquina.
Menores no crime
É uma situação que nos preocupa, o menor que não tem perspectiva. Ele não tem colégio em tempo integral, uma boa orientação e o que circunda a área onde mora, muitas vezes, não é positivo. Há ainda a família desagregada... Então ele acaba sendo uma presa fácil para o tráfico. Se ele ficar numa laje recebendo R$ 20, no fim do mês vai ganhar mais do que o pai ou a mãe. Esta falta de perspectiva é um problema crucial.
Violência sem fim
Acho que sem dúvida nenhuma a polícia acaba fazendo um trabalho de ‘enxugar gelo’. Ela transparece esta sensação, mas é preciso entender que hoje estamos procurando evitar que isto se alastre. Se pararmos de ‘enxugar gelo’, isto vai crescer muito. Tenho convicção de que a violência não vai terminar na minha gestão nem na do próximo secretário. É um processo de recuperação de cultura, de geração de emprego, de renda.

PAC contra o crime
Acho que o Rio tem historicamente uma grande possibilidade, que é o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania). Podem dizer ‘não, são planos audaciosos, não vai dar certo‘, mas o caminho é este porque recuperam a cidadania. Isto é para, no mínimo, 10 anos. Não há solução a curto prazo.
Política de segurança
Temos informações de que o tráfico hoje passa por dificuldade financeira e de articulação. Os soldados do tráfico já estão pensando duas vezes antes de se exporem guardando um paiol ou fazendo a segurança da droga. Antes, o fuzil era uma arma difícil de aparecer como apreendida. A metralhadora .30, por exemplo: em seis meses pegamos 12, enquanto nos últimos quatro anos foram só duas, se não me engano.
O uso da Inteligência
Não vamos entrar nas favelas sem objetivo, tipo pegar 100 policiais e entrar lá, porque pode acontecer o banho de sangue. Então, depois das ações de inteligência, vamos em busca das pessoas já sabendo onde elas estão e o que têm. Isto aconteceu no Leme. Muitos perguntam: porque o senhor não faz uma operação em tal lugar? Eu digo: não faço nada sem informação concreta porque ela permite que eu planeje, que diminuia a possibilidade de um fato ruim acontecer. O trabalho de inteligência estava desarticulado quando chegamos e hoje estamos muito afinados. A PF nos dá um apoio bom também. Posso dizer que a integração entre as polícias começa com a inteligência.
Inércia do Estado
Este problema da violência, hoje, está complexo porque existia uma inércia do Estado por 30 anos. Por isto o tráfico adquiriu esta gordura criminosa, por inépcia e inércia do Estado. Chegamos numa encruzilhada. Temos de decidir isto.
Liberação das drogas
No campo das idéias não vejo problema algum nas pessoas discutirem isto. Agora, para mim, isto é crime e como tal tenho como obrigação de atuar. Acho que temos de fazer a seguinte reflexão: qualquer atividade econômica humana tem fases, isto é estatística. Para comer arroz nós temos a plantação, a distribuição...A droga é a mesma coisa. Eu te pergunto o seguinte: se eu tirar o consumidor desta cadeia, estou mexendo neste mercado, contribuindo para terminar? Isso é lógico. Sou contra a descriminalização.
Marcha da Maconha
Acho que como manifestação, sim, mas tem de saber discernir entre apologia e manifestação. Liberar sem saber como vai ser a manifestação...Apologia não dá para se liberar. Agora discutir, isto é outra coisa. É temerária a caminhada porque em Recife, onde foi liberado, por exemplo, apareceu gente até fumando. Então, por prevenção, é melhor que não se faça.
Dependência química
Se o Estado quiser descriminalizar a droga, tem de preparar seu sistema de saúde para recuperar o drogado, porque ele mesmo diz que o drogado é um doente. Vamos descriminalizar a droga? Vamos, mas e depois? Não podemos nos iludir: a mesma pessoa que clama por segurança nas ruas pode ser a mesma que vai para dentro da delegacia ou que faz passeata pela descriminalização. Temos menores que cheiram cola, que fumam maconha porque não aguentam mais ver os pais batendo nas mães, o pai estuprar a irmãzinha, não aguentam mais apanhar. Têm pessoas que cheiram cola e fumam maconha porque têm de dormir ali perto da Rodoviária, debaixo do viaduto, assim como há pessoas que vão fumar maconha numa situação muito mais privilegiada social e economicamente do que eles. Quem vai levar a pior? Entre uma pessoa de classe alta que fuma maconha e uma pessoa dessa, quem está sujeito a virar um trapo humano? Falam da descriminalização da droga mas eu quero ver alguém acender um cigarro de maconha diante do centro financeiro de Amsterdam. Quem fuma maconha lá é discriminado. Tem muita água para passar debaixo desta ponte para se chegar a um entendimento, mas acho que uma reflexão no campo das idéias prolifera a discussão. Porém, hoje, no mínimo, é temerário descriminalizar a droga em função deste disparate que temos na sociedade brasileira.
Perícia técnica
Estamos indo muito bem neste caminho. Os pilares na transição eram polícia científica, inteligência, gestão e corregedoria. Com relação à polícia técnica estamos muito bem. Dentro de dois meses teremos um Instituto Médico Legal (IML) novo, com equipamentos importados. E estamos reestruturando o Instituto Carlos Éboli em termos de equipamentos e vidraria. Estou licitando e comprando um equipamento novo e promovendo a visita dos nossos peritos que trabalham no IML e no ICCE aos respectivos institutos em São Paulo. Gastamos em torno de R$ 3 milhões no IML. Já no ICCE o valor é bem menor. São coisas mais leves e por isso com um custo bem mais barato para nós.
Máfia no IML
Conheço o senhor Daniel Ponte (vice-diretor do IML do Rio que denunciou no Congresso a existência de uma máfia no instituto). Já o atendi e o recomendei que procurasse o serviço de proteção à testemunha. Uma coisa é saber sobre fatos e outra é ter provas. Eu não posso trabalhar com "me disseram, me extorquiram". A minha visão aqui não é mais prender. Precisamos fazer provas porque é a Justiça que extirpará estas pessoas.
Novo IML
O IML vai funcionar 24 horas com controle de entrada e saída de pessoas, material e cadáveres. Vai ser um controle eletrônico e muito bem feito. E teremos ainda câmeras filmando o movimento.
Legado do Pan
O material de inteligência está funcionando a 100%. São softwares de cruzamento de dados e informações, um banco de dados de inquérito e processos judiciais. As grande operações que se vê por aí vêm desta inteligência. Planejamos antes do Pan que este equipamento viesse de acordo com a nossa necessidade para depois dos Jogos. Temos uma sala de centro de crise onde herdamos todo o equipamento para ainda montar no terceiro andar.
Burocracia
Ganhar, nós ganhamos os equipamentos, o problema é que ficou uma comissão para fazer a passagem, mas mudou o secretário Nacional de Segurança e mudou a comissão. Já estamos no terceiro desde que assumi! Agora é que nós começamos a nos reunir. Dia 14 teremos a segunda reunião. Temos um número substancial de câmeras para espalhar pela cidade e ligar com os batalhões de suas respectivas áreas. São em torno de 300 que vão se espalhar. Mas não sei ainda quando teremos elas funcionando, pois aí vem o serviço público. Vou recebê-las e depois licitar a instalação delas. Aí vem uma empresa que se sente prejudicada, entra na Justiça, consegue uma liminar. É complicado.
Salários da PM
O policial militar ganha pouco, muito pouco. O governo vai acenar com um aumento mas enquanto isto não acontece, estamos dando salário indireto. O RioCard, a construção dos ambulatórios para a PM na Zona Oeste, a bolsa Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, ação conjunta para capacitar a força policial). Com ela o policial pode se habilitar num curso pela internet e auferir mais R$ 400 mensais. E a Faetec vai fazer cursos de computação nos batalhões.
Corrupção
A corrupção existe e é inegável, mas estamos trabalhando incessantemente no sentido de provar. Temos uma gama grande de denúncias, mas a denúncia é aquela: "fulano me pediu x, me pediu y". Isso só serve para acenar de que a gente vá em cima. Para você ter uma idéia já ultrapassamos aqui, só em 2007, o número de 200 policiais excluídos da PM sumariamente. Agora, o que a gente precisa é de prova.
Milícias
Eu sei onde tem a milícia, mas não adianta ir lá e encontrar um policial armado a paisana. Ele está lá, e daí? Está na folga, está lá, a mãe mora ali, a namorada, um parente. Não posso bater na porta da comunidade e perguntar: ’você paga 10 reais para este pessoa?‘ Se tivesse isto no papel, tudo bem. Então é ônus nosso produzir as provas e agir como fizemos para desarticular aquela milícia (do vereador Jerominho e do deputado estadual Natalino Guimarães), que eu entendo como a mais bem estruturada. É complicado, mas lutamos muito para construir provas com qualidade. E o que tem qualidade demanda tempo.


O Estado de São Paulo Rios amazônicos: naufrágios e uma infinidade de armadilhas flutuantes
Barcos superlotados contribuem para tragédias como a do Comandante Salles, que matou mais de 50 pessoas
José Maria Tomazela

Tragédias como o naufrágio do Comandante Salles 2008, que deixou há uma semana mais de 50 mortos - 46 corpos haviam sido resgatados e pelo menos 10 continuavam desaparecidos até anteontem -, podem voltar a acontecer. Parte da frota que transporta de 30 milhões a 50 milhões de passageiros por ano é composta por verdadeiras armadilhas flutuantes.

São barcos de madeira malconservados e sem equipamentos básicos de navegação, como rádio, que levam cargas e pessoas em excesso. Calcula-se que pelo menos 5 mil sejam piratas, sem registro nas capitanias fluviais da Marinha. Construídos de forma artesanal, muitos não têm estrutura para enfrentar turbulências dos rios e clima amazônicos, sujeitos a tempestades tropicais e mudanças repentinas de vazão. “São como caixas de fósforo numa enxurrada”, resume o comandante do Pelotão de Policiamento Fluvial da Polícia Militar, subtenente Fonseca Paes. É o caso do Comandante Salles, posto para navegar sem ter passado por inspeção. O Estado percorreu, entre quinta e sexta-feira, mais de 100 quilômetros dos Rios Solimões, Negro e Amazonas, a maior parte em barcos dos bombeiros e da PM de Manaus.

Já na partida, no porto da Manaus Moderna, irregularidades eram flagrantes. O navio Ana Maria V estava com tanto peso que a linha d’água ultrapassava o limite de segurança para navegação. Era um barco alto, de madeira, pronto para seguir viagem de sete horas até Orimixá. Empilhada, a carga de bebidas, sacaria e caixas de papelão tomava todo o porão e o convés inferior. Passageiros viajariam na parte superior. “Com uma carga dessas, há risco potencial de tombamento”, disse o subtenente. A carga estava desamarrada e só foi presa na presença do policial. “Veja só, foram comprar o rolo de corda agora.” O conferente Manoel Pinto de Azevedo garantiu que estava “tudo dentro do limite”. Ele mostrou a relação de passageiros que seria entregue à Capitania Fluvial da Marinha. Apesar do fluxo intenso de cargas e passageiros lotando dezenas de barcos, não havia ninguém para conferir planilhas. Em outro barco, a aposentada Maria José Machado, de 56 anos, ajeitava-se nas redes com seis netos pequenos para encarar 15 horas até Urucará. Ela tinha feito a viagem duas vezes e a achava segura, mas ficou assustada com o naufrágio. “A gente entrega na mão de Deus.”

O dono Tito Nogueira de Souza mostrou bóias e coletes salva-vidas “até de sobra”. O problema é a lona plástica que protege as laterais do barco e, em caso de naufrágio, funciona como parede intransponível a quem tenta se salvar. “É para proteger do vento e da chuva”, afirmou.

Outro problema: portas dos camarotes abrem para fora e, em caso de naufrágio, passageiros não conseguem abri-las pela pressão da água. Segundo o comandante, muitos barcos saem com lotação completa do porto, mas param no caminho para pegar mais passageiros. “O pessoal acena do barranco e o barco ou encosta ou reduz a velocidade para ser alcançado pela rabeta (pequena embarcação a motor).” Ele apontou dezenas de pontos de parada entre Manaus e Manacapuru.

No Rio Solimões, outro flagrante de abuso: o barco Suely Gomes transportava pessoas no convés superior. “É totalmente proibido. Um balanço mais forte joga as pessoas para fora e ali não tem bóias e coletes.” Outro barco menor, o Silas, passou com 12 a bordo, todos sem salva-vidas. Uma rabeta com duas crianças era conduzida por um garoto de, no máximo, 15 anos. Havia lanchas da Marinha patrulhando a região, mas os barcos usam furos e paranás, braços de rio, como rotas alternativas para escapar da vigilância. Num deles, o movimento intenso de embarcações incomoda as 50 famílias da Vila Nova, município de Iranduba. O pescador Manoel Veríssimo Rodrigues, de 53 anos, conta que o “banzeiro” - ondas provocadas pelos barcos - balança e estraga o telhado da casa flutuante que divide com a mulher Isabel, seis filhos e uma netinha. “Das 3 às 5 da manhã é muito barco e a casa não pára de balançar.” O movimento se repete das 15 às 22 horas, engrossado pelas balsas boiadeiras que retiram gado das margens alagadas do rio para levar à terra firme. “Os barcos que trazem as crianças da escola quase viram.” Segundo o subtenente, embarcações maiores são obrigadas a reduzir a marcha ao passar em áreas de tráfego de barcos menores, como vilas de pesca. “Ninguém obedece.”

Na noite de quinta-feira, a lancha dos bombeiros cruzou com barcos que trafegavam sem iluminação. Piloto experiente, Paes conta que o Solimões é perigoso: águas avançam sobre as margens e arrancam, além de porções de terra que a tornam barrentas, troncos e capim. Nas partes mais profundas, que chegam a 60 metros, são comuns redemoinhos como o que teria contribuído para o naufrágio do Comandante Salles 2008. Ventos repentinos e tempestades ajudam a desestabilizar as embarcações. A lancha da PM foi uma das vítimas: a manobra rápida do subtenente não conseguiu evitar um tronco que partiu a ponta da hélice, próximo do encontro com as águas do Rio Negro. O tenente Andrey Barbosa Costa, mergulhador dos bombeiros, que participou das buscas dos náufragos, disse que o Solimões é perigoso até para bons nadadores. “Não se vê nada e a corrente pode arrastar para fora do ponto de busca.”

A presidente da Associação dos Armadores do Transporte de Cargas e Passageiros (Atrac), Alessandra Martins, disse que o naufrágio foi uma tragédia anunciada. Segundo ela, há tempos a entidade denuncia as precárias condições do setor por falta de legislação e investimentos públicos. A Atrac anunciou uma greve para a próxima quarta-feira em razão de falta de segurança e do alto custo de combustível. “Nenhum barco vai sair de Manaus”, prometeu.


O Estado de São Paulo Em três anos, mais de 150 mortos em acidentes na região
Dono do barco costuma viajar com a tripulação: “Se reclama do excesso de passageiro, perde o serviço”
José Maria Tomazela

Em pouco mais de três anos, desde 2005, foram registrados 133 acidentes nos rios da Amazônia Ocidental, com um número de mortes superior a 150, incluído o naufrágio do Comandante Salles 2008, no domingo passado. Foram 158 abalroamentos - colisões laterais entre barcos grandes e menores -, 21 colisões frontais e 59 naufrágios. Mortes em naufrágios podem chegar a 130, se somados os desaparecidos no Solimões.

Essa região da Amazônia compreende Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre. Este ano já registra o recorde de 83 mortes, segundo números da Capitania Fluvial de Manaus. Em janeiro, o barco Almirante Monteiro afundou, após colidir com uma barcaça petrolífera, matando 16 pessoas. Em 2007, morreram 18 pessoas, 12 em naufrágios; em 2006, foram 17, 9 em naufrágios, e em 2005, 35 mortes.

O naufrágio do Comandante Salles, com 46 mortes confirmadas e 10 pessoas desaparecidas, pode superar o número de vítimas fatais desde 1999, quando o Ana Maria VIII naufragou, matando 52.

O capitão Paulo Brito da Silva, da Capitania, lembra que a malha fluvial de 22 mil quilômetros são as rodovias da Amazônia, usadas por 35 mil embarcações - 40 mil se consideradas as clandestinas. “A dificuldade é a mesma de controlar a frota de veículos em outras regiões, como no Sudeste”, comparou.

A Capitania dispõe de 550 homens para fiscalizar os rios, o que dá uma área de quase 10 mil km² por militar. Para Silva, o problema não está na falta de pessoal ou equipamentos, mas em aspectos culturais. “O passageiro e alguns donos de barcos, gente que convive com o rio desde o berço, não se dão conta dos riscos.” Ele disse que o piloto é obrigado, sob pena de multa e cassação do registro, a respeitar limites de carga e passageiros. O dono do barco fica sujeito a multa de R$ 40 a R$ 3,2 mil. “Não tem como fiscalizar todos os barcos.” Muitas embarcações carregam e partem sem utilizar as balsas de embarque e desembarque da Capitania para escapar de taxas e fiscalização. “Aqui, cada barranco vira um porto”, diz.

Sobre as condições dos barcos, o capitão lembra que os projetos de construção precisam ser assinados por um engenheiro naval e acompanhados pela Capitania. “Normalmente, o processo é inverso: fazem o barco e querem que seja aprovado.” Como o serviço de transporte fluvial não é regulamentado, as empresas têm pouco interesse em investir no setor.

Silva conta que geralmente o dono do barco viaja com a tripulação, o que tira a autonomia do comandante. “Se reclama do excesso de passageiro, perde o serviço.” A Capitania iniciou programa de segurança com distribuição de livretos e campanha em rádio e televisão. Também criou um telefone para receber denúncias.

O inquérito que apura as causas do naufrágio do Comandante Salles 2008 não foi concluído. Silva diz que entre as causas podem estar excesso de carga, tripulação não habilitada e condições da embarcação, sem registro.


O Globo UMA EXPANSÃO SILENCIOSA PELO CONTINENTE
Acossada em seu país, guerrilha colombiana monta rede de organizações de apoio no resto da América

BOGOTÁ. Bernardo é um economista argentino, de não mais que 50 anos, e, entre 1990 e 1996, foi assessor externo da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). Depois de fazer uma pequena fortuna, acaba de enviar seu filho mais velho aos Estados Unidos para fazer um curso de piloto.

Já o colombiano Héctor Orlando Martínez Quinto chegou em 2000 à Costa Rica e se casou com uma jovem, o que lhe permitiu obter o visto de residência e ingressar no mundo das frotas pesqueiras, em associação com outro colombiano, Huberth González Rivas, também casado com uma costa-riquenha.

Essas poderiam ser histórias ordinárias de emigrantes latino-americanos, a não ser pelo fato de Bernardo e Héctor Orlando serem dois dos agentes usados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para levar adiante uma nova e silenciosa batalha: expandir-se ideológica, logística e financeiramente pela América Latina.

Membros das Farc se passam por refugiados

Bernardo, dizem fontes do Exército colombiano e das próprias Farc que hoje colaboram com a Justiça, foi o encarregado de penetrar em países do Cone Sul, enquanto Héctor Orlando - autor do massacre de Bojayá (Chocó), em maio de 2002 - se meteu no negócio da pesca na Costa Rica para utilizá-lo como base de troca de cocaína por armas. É a conclusão a que chegou o Ministério de Segurança da Costa Rica.

- A estratégia consiste em enviar a esses países quadros com o disfarce de refugiados, que, uma vez instalados, tornam-se intocáveis e iniciam a ofensiva - assegura um oficial colombiano.

Na Argentina, foram recebidos nos últimos cinco anos 80 refugiados políticos colombianos. Mas quando se indaga sobre seu passado e suas atividades, a resposta oficial do governo é que, ainda que entre eles haja vários membros das Farc, trata-se unicamente de perseguidos ou desmobilizados.

O mesmo padrão se repetiria no Equador, no México e no Brasil. Essa estratégia internacional da guerrilha começou a se gestar em 2002, quando Alvaro Uribe chegou ao poder na Colômbia, com um duro discurso contra as Farc e com as Forças Armadas fortalecidas.

- Por causa da pressão militar, as Farc se viram obrigadas a renunciar à campanha de seqüestros e às grandes ações, com que chegaram a penetrar inclusive em Cali, a terceira cidade mais importante da Colômbia - diz um membro da inteligência militar colombiana.

Naquela época, o Secretariado das Farc optou por iniciar a penetração no resto do continente, que já tivera duas fases, embora pouco produtivas. A primeira, nos anos 80, fracassou por inexperiência. E a segunda foi detida pelo retrocesso do socialismo a nível mundial.

Mas essa terceira fase, coordenada pelos membros do Secretariado Raúl Reyes e Iván Márquez, rendeu frutos. As Farc conseguiram armar uma rede de mais de 400 organizações legais, clandestinas e semiclandestinas que respaldam sua causa, da Argentina até os EUA. Sua ponta de lança foi a Coordenadora Continental Bolivariana (CCB). Não é gratuito que, três dias antes da morte de Reyes, o Segundo Congresso da CCB, reunido em Quito (Equador), tenha aprovado uma resolução de apoio à batalha internacional das Farc para serem tiradas da lista de organizações terroristas e reconhecidas como grupo beligerante.

Na rede de organizações articulada pelas Farc há desde movimentos de revolucionários puros até ONGs defensoras dos direitos humanos, passando por partidos políticos legalmente estabelecidos. A inclusão na categoria de legal ou ilegal decorre do tipo de atividades que desempenham. Se o apoio é apenas ideológico, não há laços. Mas se passa a ser, transformam-se imediatamente em alvo das autoridades. E isso é o que começou a ocorrer com muitas organizações em toda a América Latina. Por exemplo, o Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA), no Peru, dá respaldo aberto ao discurso das Farc, por ter como coincidência ideológica um acirrado antiimperialismo. Mas, desde 2006, também há indícios de que membros do grupo peruano tenham recebido treinamento militar da guerrilha. A polícia local tem evidências de que as Farc usam a cidade de Iquitos para recrutamento de milicianos e recuperação de feridos, obtenção de armas e tráfico de drogas.

Próximo objetivo é penetrar nos Estados Unidos

Esse limite entre o apoio ideológico e logístico (incluindo-se o tráfico de drogas e armas) e a condição de refugiados por parte daqueles que promovem essas organizações é o que preocupa as autoridades da Colômbia e de outros países da região. Na Cidade do México, por exemplo, chama a atenção que alguns membros das redes bolivarianas têm interesses numa casa de câmbio e em duas empresas.

E no Equador há agentes de ligação, além de o país abrigar acampamentos da guerrilha. Também na Venezuela e na Colômbia, grupos de jovens aglutinados na Cruzada Latino-americana e no Grupo Anarquista foram treinados para manejar explosivos e armas. No Chile, a liderança do trabalho pró-Farc cabe a um refugiado conhecido como Roque, que conseguiu que o Partido Comunista enviasse membros à Colômbia para receberem instrução militar.

No entanto, tudo indica que o principal esforço das Farc esteja encaminhado a estabelecer algum tipo de conexão nos EUA. A inteligência colombiana assegura que as Farc já abriram ali duas bases de trabalho ideológico: uma ONG ambientalista e um centro de estudos. Com todo esse panorama, funcionários da inteligência do governo colombiano admitem que, embora as Farc estejam encurraladas na Colômbia, podem reclamar seu fortalecimento no exterior como seu grande triunfo nos últimos cinco anos.


O Globo UMA EXPANSÃO SILENCIOSA PELO CONTINENTE
Membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)

A maioria sob a condição de refugiados - estão formando desde 2002 núcleos ideológicos, logísticos e financeiros fortes em pelo menos sete países. O Peru serve como provedor de milicianos, armas e drogas; o Equador é um bastião financeiro e refúgio; já Venezuela, Costa Rica e México são locais de lavagem de dinheiro do narcotráfico e apoio ideológico; o Brasil entra na rota das drogas e do fornecimento de armas e a Argentina, como alvo de penetração; os Estados Unidos são o próximo objetivo.

O Grupo de Diários América (GDA), que reúne alguns dos principais jornais do continente e do qual o GLOBO faz parte, juntou esforços para traçar o mapa dessa expansão.

Sunday, May 04, 2008

ACIDENTE NO LAGO
Passageira de barco está em estado grave
Raphael Veleda - Especial para o Correio

Serão retomadas amanhã as investigações para apurar as causas do acidente náutico que matou o capitão do Exército Luiz Antônio de Mattos Lima, 38 anos, na última quinta-feira. Os depoimentos do piloto e do tripulante da lancha Old Saylor, que se chocou com o barco de pesca Tira-Onda, onde estava o oficial, estão marcados para as 15h, na 5ª Delegacia de Polícia (área central de Brasília). Os policiais esperam esclarecer até o fim da semana as circunstâncias da colisão que ocorreu no lago Paranoá, próximo ao Palácio da Alvorada. Leizelane Aparecida Tenório, 30, noiva de Lima que também estava no barco, continuava internada em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base, até a noite de ontem.

A dúvida principal dos investigadores diz respeito às condições de visibilidade, pois os envolvidos divergem sobre o horário da ocorrência. Piloto da lancha, o técnico em telecomunicações Carlos Eduardo Almeida, 31 anos, afirma estar tranqüilo para o depoimento. Ele vai repetir que não viu a pequena embarcação. “Já estava escuro e o barco não tinha luz de sinalização”, garante. “O momento em que o Rafael (o analista de sistemas Rafael Vinícius Pereira, 30), que estava comigo na lancha, ligou para o socorro, às 18h40, já reflete isso. O acidente tinha acabado de acontecer e eu estava na água, resgatando as vítimas”, completa.

Para Almeida, a polícia precisa ouvir o piloto de um barco a vela que ajudou no resgate. “Ele viu o acidente e pode relatar que não havia visibilidade”, atesta. A suposta testemunha, no entanto, ainda não foi identificada. Carlos Eduardo diz que saiu da Associação dos Servidores do Tribunal de Justiça (Assejus), no final da tarde, na companhia do amigo e seguiu pela margem do lago por estar com pouca gasolina na lancha. O destino era a Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal (Apcef), mas a tragédia encurtou o percurso.

Em depoimento na última quinta-feira, o piloto do barco de pesca, Carlos Eduardo Ottolini de Oliveira, 54, disse que havia luz do sol na hora do acidente. Ele teria saído do Clube do Exército às 15h30 para passear com o amigo Luiz Antônio e a noiva do capitão, a assistente social Leizelane. O grupo parou para fazer fotos na altura do Palácio da Alvorada, quando foi atingido pela lancha. Os três caíram no lago. Almeida ajudou no resgate das vítimas, mas o corpo de Luiz Antônio só foi encontrado na madrugada de sexta-feira. Ele foi enterrado na manhã de ontem, em Goiânia. Leizelane apresentou ligeira melhora segundo os médicos, mas continuava sedada e respirando com a ajuda de aparelhos, até o fechamento desta edição.


Folha de São Paulo Acusação dos EUA à Síria provoca medo no mundo árabe
Alegação de que Coréia do Norte ajudou a construir reator alimenta o temor de ataque a alvos sírios ou iranianos
ROULA KHALAF - DO "FINANCIAL TIMES"

A tempestade política em Washington em torno da suposta ajuda norte-coreana a um reator nuclear no leste da Síria pode ser bem recebida por Estados árabes favoráveis a uma pressão internacional mais intensa sobre Damasco.

Mas o público árabe recebeu as declarações com ceticismo.

Após o fiasco da inteligência americana no Iraque, poucas pessoas na região acreditam no que dizem os EUA, especialmente quando o que é dito guarda qualquer relação com Israel. E, embora as alegações feitas há 12 dias possam ser dirigidas à Coréia do Norte, ela alimenta especulações sobre um possível ataque americano ou israelense contra alvos ligados à Síria ou ao Irã.

Possivelmente para calar tais teorias, altos representantes sírios disseram esta semana que Israel está buscando uma paz com Damasco, apesar de ter bombardeado o suposto sítio nuclear em setembro passado.

Há 13 dias, o presidente Bashar al Assad disse que a mediação turca resultou numa oferta israelense de retirada das Colinas de Golã, ocupadas na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

"O que está sendo dito sobre a Coréia do Norte e a Síria é totalmente absurdo", disse Mohamed al Sayed Said, editor do jornal egípcio "Al Badeel".

"Eles [os EUA] querem conquistar a opinião pública e avisar sobre um possível ataque ao Irã, ao Hizbollah e possivelmente à Síria."

Quando Israel bombardeou o sítio no ano passado, nenhum protesto foi ouvido por parte dos maiores países árabes, fato que sugere que eles tenham reagido com alívio. As relações da Síria com a Arábia Saudita e o Egito vêm se deteriorando devido à ingerência presumida de Damasco no Líbano e ao alinhamento de sua política com o Irã, rival desses dois países.

Arsenal israelense

Reservadamente, autoridades árabes fizeram pouco caso da alegação síria de que o sítio era uma antiga instalação militar. Mas comentaristas árabes protestaram, vendo o bombardeio como mais uma instância de Israel agindo em desrespeito às leis internacionais. O fato de que o sítio pode ter sido um reator nuclear não chegou a ser visto como problema, dado que muitos árabes saudariam a possibilidade de um de seus Estados procurar armar-se nuclearmente, para contrabalançar o arsenal nuclear israelense (não declarado).

A falta de credibilidade dos EUA na região e a recusa da síria em permitir que a agência de fiscalização nuclear da ONU inspecione o sítio sem dúvida acrescentarão argumentos às teorias conspiratórias. Pessoas próximas ao regime sírio já desconfiam que a administração Bush não deixará o poder sem antes desferir um golpe contra a Síria, o Irã e seus aliados.

O bombardeio israelense foi motivo de constrangimento profundo para a Síria. E esta ainda não explicou o assassinato em Damasco, este ano, de um comandante do Hizbollah. O Hizbollah atribuiu o assassinato a Israel, mas, em meio a sugestões de um possível envolvimento do serviço de inteligência sírio, o governo ainda não divulgou os resultados de sua investigação.

A Síria com frequência vê as ofertas de paz vindas de Israel como insinceras, mas está levando as propostas mais recentes a sério, embora queira que as negociações comecem apenas após a posse de uma nova administração nos EUA. Até isso acontecer, sua prioridade é evitar mais ataques e constrangimentos.
Tradução de CLARA ALLAIN


Jornal do Brasil EDITORIAL
O Brasil é o líder real do continente

Há alguns meses, a conceituada revista The Economist dedicou matéria de capa a uma leitura geopolítica que incomodou profundamente os brasileiros. Na capa, estampava a provocação, quase sentença, com fotos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, e a pergunta: "Quem lidera a América Latina?". A resposta, nas páginas internas, decretava a vantagem do líder bolivariano, destacando que o Brasil perdera a frente estratégica para Chávez por excesso de timidez na hora de se contrapor às táticas agressivas do venezuelano em questões tais quais a crise do gás com a Bolívia, o uso dos petrodólares como trampolim político e a corrida armamentista no continente. Olhando o quadro hoje, sobretudo após a histórica passagem brasileira ao patamar de investimento seguro, é possível concluir, com a mesma certeza dos editores britânicos, que o Brasil continua mais líder do que nunca na América Latina.

É verdade que as reações iniciais do governo às diatribes de Evo Morales foram num tom abaixo do que se esperava. Mas tiveram a correção, por outro lado, de não expor o presidente boliviano a uma situação de fragilidade maior do que a qual enfrenta desde a posse. Hoje, o cocalero aguarda aflito a decisão das províncias mais ricas no referendo de autonomia que pode significar a fragmentação do país e dinamitar sua (legítima) autoridade. Hugo Chávez, cheio de préstimos para exportar as teses bolivarianas, não cabe na farda de bombeiro. Esse papel Morales espera que o Brasil, mais uma vez, exerça, caso a crise se agrave.

O Brasil também aplicou seu perfil de liderança na séria crise envolvendo Colômbia e Equador quando do episódio da morte do número 2 da guerrilha das Farc, Raul Reyes. A diplomacia trabalhou em silêncio na reconstrução dos canais de diálogo e deixou que outros colhessem os louros públicos de uma negociação na qual só as armas pareciam ter lógica.

As demonstrações mais recentes de pragmatismo consolidaram o troco histórico à capa provocativa da Economist, ainda que a publicação tivesse se redimido posteriormente ao comparar Brasil e Argentina à fábula da lebre e da tartaruga quanto ao comportamento diante do perfil de endividamento. Eleito para o papel de opressor imperialista na campanha presidencial do Paraguai, o Brasil mais uma vez evitou a armadilha do conflito retórico e inútil em torno do reajuste das tarifas de energia da binacional Itaipu que, se rendeu votos e manchetes nos jornais de Assunção, poderia fugir ao padrão executado até o momento. Em vez de comprar a briga, acenou-se com a possibilidade de um volume maior de investimentos em infra-estrutura elétrica no país vizinho (leia-se, por exemplo, a linha de transmissão de Itaipu a Assunção), como forma de compensação.

Com o grande rival de outrora, a Argentina, o Brasil também imprimiu sua marca em um relacionamento marcado por disputas solucionadas de forma positiva. O recente acordo de empréstimo de energia – há enorme carência no vizinho – repisa a fórmula que pavimenta a tranqüilidade pelo caminho do desenvolvimento mútuo, ainda que essa mesma cooperação enfrente soluços no âmbito comercial do Mercosul. O exercício da liderança, para o dever de casa aos editores da Economist, é sustentado por uma política econômica ortodoxa que, embora com outras cores na embalagem, é a mesma no conteúdo e na aplicação desde 1994. Se eventualmente parecia lógico naquele momento considerar que a Venezuela aparecia aos olhos do mundo como a proa atrás da qual navegavam os países latinos, faltou observar também que os fundamentos dessa vantagem eram enfunados por ventos pouco consistentes. A elevação ao grau de investimento seguro, esta semana, não reflete uma manifestação episódica da vocação continental brasileira. Apenas a consolida.


O Globo Damas indomáveis
Vinte anos após 'Top Gun', mulheres pilotam o poderoso caça F-18 e mostram que o papel da mocinha mudou
Cristina Azevedo

Na época em que "Top Gun" ("Ases Indomáveis", 1986) foi filmado, mostrando aspirantes a pilotos de caça - a elite da aviação naval americana -, a mocinha de Kelly McGillis tinha que se contentar em "voar" na garupa da moto de Tom Cruise. Duas décadas depois, elas estão no cockpit, em arriscadas missões de guerra e de paz.
Bastou um vôo para que o coração da tenente Susan "Flo" Smith fosse fisgado - ou "enganchado", como ela diz, a exemplo do que acontece com o caça no momento do pouso num porta-aviões - para sempre.
- Só decidi ser piloto depois de entrar para a Academia Naval. Parecia a melhor opção e eu não tinha idéia de como ia adorar isso. Poucas pessoas podem dizer que amam o que fazem, mas, na maioria dos dias, amo voar - conta Susan, que participou das guerras do Iraque e do Afeganistão.
Susan está a bordo do porta-aviões USS George Washington, que participa de exercícios militares junto com as marinhas de Brasil e Argentina a cem milhas da costa sul do Rio de Janeiro. Nesse imenso navio, com mais de 4 mil pessoas a bordo, apenas 50 são pilotos aptos a voar no poderoso caça F/A - 18 Super Hornet - uma máquina de combate. E destes 50, só três são mulheres.
- Adoraria dizer que não há preconceito no mundo. Mas tive que trabalhar duro para mostrar que era tão capaz quanto qualquer outra pessoa - conta a tenente Rebecca Madson, piloto de F-18 e que também participou das duas guerras. - Não há muitas pilotos na aviação de combate, mas as que conheci são pessoas impressionantes.
A vida num porta-aviões não é muito fácil. São meses longe de casa, sem ver parentes e amigos, semanas sem pisar em terra firme, além de ter que viver num espaço muito restrito. Susan compara a vida no porta-aviões a "um imenso alojamento escolar". Ela conta que as militares mulheres geralmente se reúnem para assistir a filmes não muito apreciados pelos colegas homens, conversar, ler, fazer as unhas. Essa rotina diferente acaba também por afetar os relacionamentos amorosos.
- Meu namorado entende o que eu faço porque está na mesma profissão. Mas eu diria que a maioria das mulheres na Marinha de Guerra acha difícil encontrar um homem não militar que entenda o que elas fazem. Entre todas as minhas amigas aqui, não consigo lembrar de uma que seja casada ou que esteja envolvida com um homem que não seja militar - conta Susan. - É uma profissão que exige muito da pessoa e muitos homens simplesmente não se sentem à vontade com a idéia de que a mulher que amam esteja arriscando a vida ou que viva em perigo diariamente.
Apesar das duas guerras no currículo, Susan prefere não responder sobre situações de risco que tenha vivido. Rebecca também sai pela tangente:
- Nunca enfrentei uma situação de perigo para a qual não tivesse sido treinada. E o Super Hornet é um avião extremamente confiável e seguro - desconversa.
São oito anos de vôos para Susan, enquanto Rebecca conta que "ganhou as asas" como piloto naval em 2005. Elas procuram não destacar o fato de ser mulher na profissão ou se preocupar com isso.
- Nunca tentei ser julgada como a melhor aviadora ou a melhor mulher em nada. Desejo apenas "ser a melhor" - conclui Susan.
CRISTINA AZEVEDO visitou o USS George Washington esta semana.


O Globo Ciclone mata 2 pessoas e desabriga 1.500 no Sul
Ventos de até 100 quilômetros por hora deixam 350 mil sem luz e alagam casas em Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Adriana Baldissarelli* e Higino Barros*

FLORIANÓPOLIS e PORTO ALEGRE. A Região Sul voltou a viver momentos de pânico como os ocorridos há quatro anos com a chegada do furacão Catarina. Um ciclone extratropical atingiu ontem o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, causando chuvas e ventos fortes - entre 80 e 100 quilômetros por hora - e matando duas pessoas, além de deixar 350 mil sem energia elétrica por mais de seis horas. Mil e quinhentas pessoas ficaram desabrigadas na região metropolitana de Porto Alegre; em Santa Catarina, moradores foram aconselhados a deixar suas casas temporariamente. Dois municípios gaúchos - Santo Antônio da Patrulha e Caraá - decretaram estado de emergência.

Na região metropolitana de Porto Alegre, casas foram alagadas. Em Serafina Corrêa, o motorista de caminhão José André Pinheiro Parnechi, de 37 anos, morreu ao ser atingido por uma árvore, quando saiu do veículo para retirar um galho de eucalipto caído na rodovia RS-219. Maria Estela da Silveira, de 80 anos, morreu após sofrer um mal súbito, quando viu sua casa cercada pela água, na estrada Otaviano José Pinto, em Porto Alegre.

Moradores foram avisados a tempo para erguer móveis
Em Florianópolis, árvores derrubadas pelo vento romperam cabos de transmissão de energia elétrica, na Barra da Lagoa e no centro da cidade, e interromperam o tráfego durante a madrugada na rodovia SC-404, na subida do morro da Lagoa da Conceição. O prédio de um núcleo de educação infantil do governo do estado foi destelhado na Costeira do Pirajubaé. Sete equipes da Companhia de Energia Elétrica de Santa Catarina (Celesc) restabeleceram o fornecimento de energia elétrica na tarde de ontem.

Em Santo Amaro da Imperatriz, o Rio Cubatão transbordou e alagou uma rua. Em Laguna e Tubarão também foram registrados alagamentos, mas a Defesa Civil avisou os moradores de áreas de risco a tempo para que erguessem móveis ou deixassem durante algum tempo suas casas. A Marinha proibiu a navegação no litoral catarinense no fim de semana, já que havia previsão de ondas de até três metros na costa e de seis metros em alto-mar. Equipes da Defesa Civil ficaram de prontidão no litoral sul do estado.

De acordo com meteorologistas, o ciclone extratropical formou-se sobre Santa Catarina no fim da tarde de sexta-feira e deslocou-se rapidamente para o Rio Grande do Sul. O ciclone não tem a magnitude do furacão Catarina, que atingiu o estado em 2004, mas provocou ventos superiores a 100 quilômetros por hora na Ilha do Arvoredo e no município de Governador Celso Ramos, de acordo com a meteorologista Gilsânia Cruz.

- Felizmente o ciclone perdeu força, e a situação está sob controle. Não há desabrigados nem registro de feridos em Santa Catarina- informou o operador do Conselho de Defesa Civil (Codec) Ailton Lopes.


O Globo Avião com seis pessoas desaparece na Bahia
Bimotor, com dois brasileiros e quatro empresários ingleses, foi visto pela última vez na região de Itacaré
Ana Cristina Oliveira*

SALVADOR. Um bimotor que transportava seis pessoas - dois brasileiros e quatro empresários ingleses - está desaparecido desde a tarde de sexta-feira, no litoral baiano. A aeronave - um Cessna 310, prefixo PT-JGX, da empresa de táxi aéreo Aero Star - saiu de Salvador em direção à cidade de Ilhéus, no sul da Bahia (a 465 quilômetros da capital baiana), e desapareceu entre os municípios de Itacaré e Uruçuca.

A aeronave era pilotada por Clóvis Redault de Figueiredo e Silva. O co-piloto era Leandro Veloso e os quatro passageiros, os ingleses Rick Every, Michael Hogess, Allan Campson e Shaw Lak Woodhl. Segundo informações da gerente comercial da Aero Star, Hellen Duarte, os estrangeiros trabalhavam no ramo imobiliário-hoteleiro.

Uma equipe de resgate foi acionada e passou a vasculhar a região entre Itacaré e Uruçuca desde a manhã de ontem. O último contato da aeronave com a torre de comando do Aeroporto Jorge Amado, em Ilhéus, ocorreu às 17h50m de sexta-feira, quando o bimotor sobrevoava Serra Grande, em Uruçuca.

O técnico Márcio Rodrigo Coutinho Neves foi a última pessoa a ver o avião antes de ele desaparecer. O técnico instalava equipamentos de internet na área rural de Serra Grande, em Uruçuca. Ele afirmou que viu o clarão dos faróis do bimotor, quando a aeronave sobrevoava um morro perto da Fazenda Bambu, em Serra Grande.

As buscas - que estão sendo realizadas pela Aeronáutica, em conjunto com a Polícia Militar e outros órgãos de segurança, entre as regiões de Serra Grande e Itacaré, numa área de 40 quilômetros - foram suspensas ontem à noite e serão retomadas hoje.

- As buscas continuam desde ontem (sexta), quando se soube do desaparecimento. A Polícia Militar está fazendo busca; o salvamento aéreo também. Até agora, não se tem certeza do local. Apenas algumas pessoas disseram ter visto a aeronave se chocando numa área próxima a um loteamento. O helicóptero está fazendo pouso nas comunidades vizinhas ao suposto local do acidente e colhendo informações - disse ontem o superintendente da Infraero em Ilhéus, Edilson Pereira Santos.
(*) da Agência A Tarde, com Globo Online

pesquisa

Google