Sunday, May 25, 2008

Lula tem encontro 'tenso' com Correa, Evo e Chávez
Antes da assinatura do tratado da Unasul, presidente equatoriano ainda fazia restrições a formato do acordo
O primeiro compromisso da agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem foi um café da manhã com os presidentes do Equador, Rafael Correa, da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Hugo Chávez, para garantir uma assinatura sem surpresas do trato constitutivo da União Sul-Americana de Nações (Unasul). Foi, na descrição de assessores presentes, um encontro “tenso”. Nos últimos momentos, às vésperas da assinatura definitiva, Correa ainda apresentou restrições ao formato do tratado.
Na estrutura final da Unasul, a secretaria-geral - que ficará no Equador - terá menos poder que o conselho de delegados e delegadas, sendo apenas a quarta instância de decisão. O presidente equatoriano acredita que os seus delegados não refletem fielmente as posições de seu governo. No entanto, o Equador não havia questionado seriamente a formatação final, porque o principal candidato a secretário-executivo da Unasul era o equatoriano Rodrigo Borja, que renunciou na última quinta-feira, mudando o quadro.
Corrêa foi convencido a abandonar os seus pleitos em nome da harmonia na Unasul e para não criar mais problemas em um acerto já complicado. O governo brasileiro já esperava um revés em relação ao anúncio da criação de um conselho de defesa na Unasul, rejeitado pela Colômbia e visto com reservas por outros países da região, o que dava mostras de um relacionamento ainda muito complicado.
CONSTRANGIMENTO
Em 2005, durante outro encontro em Brasília, Lula teve de passar pelo constrangimento de ver o presidente venezuelano negar-se em público a assinar a declaração final dos presidentes que previa criação da Comunidade Sul-Americana de Nações - o primeiro nome da Unasul -, depois de um dia inteiro de negociações.
Naquela ocasião, Chávez exigia que o debate continuasse até que todos chegassem a um consenso sobre o tratado constitutivo. Diante da imprensa, o venezuelano passou um pito no chanceler brasileiro, Celso Amorim, que tentou convencê-lo a assinar a declaração.
Coube ao presidente Lula a tarefa de apaziguar Chávez e convencê-lo sobre a importância de assinar o documento
O Estado de São Paulo

Adesão de vizinhos deve demorar 5 anos
Entidade pretende se expandir para América Central e para o Caribe
A União Sul-Americana de Nações (Unasul) terá um período de carência de cinco anos até começar a agregar vizinhos da América Central e do Caribe que venham a se interessar pelo processo de integração. Otimistas, os negociadores do documento previram que os pedidos de adesão vão aparecer.
O texto prevê que só os países que tenham passado quatro anos na condição de Estados Associados poderão se candidatar. A adesão será decidida por consenso pelos presidentes. O documento firmado ontem pelos 12 países não impõe a vigência da democracia plena como condição para a permanência no grupo.
A estrutura de decisão da Unasul repetiu, com alguma flexibilidade, a do Mercosul. No tratado, curiosamente, todas as autoridades são mencionadas nos gêneros feminino e masculino. O comando estará nas mãos do conselho de “chefes e chefas” de Estado. Abaixo, estará o conselho de “ministros e ministras” de Relações Exteriores. Na negociação para valer, estará o conselho de “delegados e delegadas” e, por fim, a secretaria-geral - o órgão executivo com poder minguado, como no Mercosul, que terá sua sede em Quito (Equador). A cada ano, um país presidirá a Unasul. Desde ontem, é a vez do Chile.
A pressão de Bolívia, Venezuela e Equador para criação imediata de um Parlamento Sul-Americano, com sede em Cochabamba, foi diplomaticamente podada. O tratado prevê que a formação dessa Casa será objeto de protocolo adicional. O texto firmado ontem deverá entrar em vigor 30 dias depois de nove países, no mínimo, terem ratificado o tratado nos seus Congressos.
O Estado de São Paulo

Jefferson Péres morre aos 76
Senador do PDT, cuja marca principal era a defesa da ética na política, teve um enfarte em casa, em Manaus
Vítima de um enfarte fulminante, o senador Jefferson Péres (PDT-AM), reconhecido pela permanente briga no Congresso em defesa da ética, morreu ontem, por volta das 6 horas, em sua casa, no bairro Adrianópolis, em Manaus. Aos 76 anos, o parlamentar tinha atuação dura, relatou casos rumorosos - como a cassação do ex-senador Luiz Estevão e um processo contra o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) - e era forte crítico do governo Lula, apesar de o seu partido integrar a base aliada. Sua morte foi lamentada no meio político, com manifestações das principais expressões nacionais.
A mulher do senador, a juíza aposentada Marlídice de Souza Carpinteiro Péres, de 60 anos, disse que o senador acordou no horário habitual, por volta das 5h30, tomou café e desceu as escadas de sua casa, de dois andares, para apagar as luzes do jardim. Não fez a costumeira caminhada ao redor da piscina, exercício que praticava todas as manhãs. Ao retornar para o quarto, sentou-se na cama e reclamou de forte dor no peito. “Estou passando mal”, disse.
Marlídice chamou o médico da família, César Cortez, mas não houve tempo para prestar socorro. “Ele era hipertenso arterial. Teve enfarte agudo fulminante, que causa parada cardíaca e respiratória”, explicou o médico. A mulher e dois filhos do senador, Ronald e Roger, estavam em casa. O terceiro filho, Rômulo, estava nos Estados Unidos, a passeio, e tentava ontem retornar a Manaus.
Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM) acompanhou Péres em sua última viagem de Brasília para Manaus. “Ele aparentava estar muito bem”, contou o tucano. Durante o vôo, conversaram sobre política, filmes e literatura. Eles desembarcaram na capital amazonense às 13h30 de quinta-feira. Naquela tarde, Péres acessou sites de notícias, colocou em dia artigos que publicava em jornais e organizou a agenda. “Foi um nome que o Amazonas doou para o País. Uma referência de ética e de moralidade”, lamentou Virgílio, ao saber da morte.
O velório movimentou ontem o Centro Cultural Palácio Rio Negro, antiga sede do governo do Amazonas. O enterro será hoje, às 16 horas, no cemitério São João Batista, no bairro Adrianópolis, onde Péres morava. O governo estadual decretou luto por três dias. No Senado, a bandeira ficará a meio mastro por esse mesmo período.
REPERCUSSÃO
Ultimamente, Péres defendia abertamente uma ampla investigação sobre as suspeitas envolvendo o deputado Paulinho Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, filiado ao seu partido. Da mesma forma, criticava o governo Lula, embora seu partido componha a base aliada no Congresso.
A notícia de sua morte se espalhou e levou ao Congresso, em plena sexta-feira pós-feriado, todos os senadores que estavam em Brasília. O presidente do Congresso, Garibaldi Alves (PMDB-RN), foi imediatamente à Casa, abriu a sessão consternado e referiu-se ao pedetista como um “um senador franzino e pequenino que se agigantava” na defesa da democracia.
“Perdemos um grande senador, grande homem público, um homem dedicado à defesa da democracia, um dos sustentáculos da coluna vertebral do Senado”, discursou Garibaldi. “Foi-se um guerreiro de luta e coerência. É uma perda muito difícil”, disse a senadora petista Serys Slhessarenko (MT).
“Essa morte, de chofre, nos deixa a todos consternados. Péres foi um companheiro altivo, independente, que sempre mereceu o nosso respeito, até quando discordávamos dele. Era um homem íntegro, probo e um baixinho que provou que tamanho não é documento”, afirmou o senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC).
Também senador pelo Amazonas, João Pedro (PT) era um dos mais emocionados. “Fui vereador com ele nos dois mandatos em Manaus e também fomos eleitos senadores juntos. O Amazonas perde muito pelo homem público que era o senador Jefferson Peres, referência nacional. Senador franco, duro, exigente, mas profundamente ético”, afirmou.
Médico, o senador Mão Santa (PMDB-PI) disse que o colega não tinha “perfil” para ser vítima de enfarte. Funcionários do gabinete de Péres receberam centenas de telefonemas de solidariedade. “A saúde estava em dia”, afirmou um assessor.
REPERCUSSÃO
José Serra (PSDB)
Governador de São Paulo
“Ele era um conselheiro. Pessoalmente, eu perco um amigo e alguém que sempre me incentivou na luta política. Jefferson foi dos nossos
melhores senadores e melhores integrantes do Congresso. Era um homem firme, sereno, de convicções democráticas profundas, muito bem preparado”
José Múcio Monteiro
Ministro das Relações Institucionais
“A democracia amanhece empobrecida. Jefferson Péres foi um homem que
pautou a sua vida pelos princípios da ética e da moralidade”
Nelson Jobim
Ministro da Defesa
“Era um homem importante, um grande amigo. Desempenhava um papel
dentro do Senado que tinha uma funcionalidade muito forte. É uma grande perda”
Carlos Lupi
Ministro do Trabalho e ex-presidente do PDT
“Travou batalhas inesquecíveis, colocando sempre em primeiro plano seu amor e sua ferrenha defesa aos princípios básicos da ética política”
Marco Aurélio Garcia
Assessor especial da Presidência
“Em alguns momentos tivemos divergências sobre política externa, mas,mesmo que eu discordasse de alguns pontos de vista dele, obviamente que ele queria o melhor para o Brasil”
Gilmar Mendes
Presidente do STF
“Era um homem extremamente correto, probo e dedicado às causas e interesses do País”

Aécio Neves (PSDB)
Governador de Minas Gerais
“Jefferson Péres entra para a história brasileira como um dos homens que honraram a atuação como parlamentar levando às últimas conseqüências a honrosa tarefa de representar com altivez seus conterrâneos”
Geraldo Alckmin (PSDB)
Ex-governador de São Paulo
“Ao longo de sua vida, Jefferson Péres não apenas defendeu os legítimos interesses da população do Amazonas, mas exerceu a política com ética e honra, tornando-se, assim, uma referência para o Senado, o Congresso e o Brasil”
Paulo Pereira da Silva (SP)
Deputado e presidente nacional do PDT
“Ele dedicou sua vida em prol do bem público, era um homem íntegro e referência ética no Congresso”
Garibaldi Alves
Presidente do Senado
“Perdemos um grande senador, um grande homem público, um homem dedicado à defesa da democracia e que era um dos sustentáculos da coluna vertebral do Senado. Era um grande peregrino em defesa da ética”
Cristovam Buarque
Senador pelo PDT-DF
“Com o falecimento do senador Jefferson Péres morre também a moral da política brasileira”
Serys Slhessarenko
Senadora pelo PT-MT
“Foi-se um guerreiro de luta e coerência. Para nós, é uma perda muito grande, muito difícil”
Mozart Valadares Pires
Presidente da AMB
“Símbolo da independência política, o senador lutou pela democracia durante toda a sua carreira com uma postura ética irrepreensível”
O Estado de São Paulo

Violência se espalha e chega à Cidade do Cabo
Confrontos xenófobos na capital legislativa da África do Sul matam 1 estrangeiro e obrigam 420 a fugir
A violência contra imigrantes, que teve início há duas semanas na periferia de Johannesburgo e já deixou 43 mortos, espalhou-se ontem até a Cidade do Cabo - capital legislativa da África do Sul -, no litoral do país.
Um somali foi morto e mais de 15 agressores foram presos em confrontos durante a madrugada. A polícia retirou 420 imigrantes das favelas da cidade, para evitar novos conflitos. Dezenas de lojas e casas foram destruídas. “Conseguimos estabilizar a área por volta das 2 horas. Agora, há 200 policiais e membros da Guarda Nacional no local”, disse o chefe da polícia, Billy Jones, à CNN.
Os imigrantes foram retirados da periferia da Cidade do Cabo em ônibus da prefeitura e levados para centros comunitários e igrejas. Eles fugiram depois de terem sido ameaçados por multidões - que se formaram após um encontro no qual se buscava formas de aliviar a tensão.
Segundo Jones, o somali - cujo nome não foi divulgado - foi morto ao ser atropelado por um carro, quando tentava fugir de um grupo armado com facões. Outros 12 imigrantes ficaram feridos.
Os ataques contra estrangeiros - especialmente de países vizinhos como Zimbábue e Moçambique - já obrigaram 28 mil a abandonar suas casas. Muitos estão retornando para seus países.
ÊXODO
A leva de imigrantes de volta para casa fez com que o governo de Moçambique decretasse ontem estado de emergência e liberasse verba extraordinária para lidar com a situação. O chanceler Oldemiro Baloi disse que a decisão foi tomada após 10 mil moçambicanos terem voltado da África do Sul.
Só na quinta-feira, 620 moçambicanos chegaram a Maputo, vindos de Johannesburgo. Para Baloi, “o êxodo vai piorar” quando milhares de pessoas em fuga conseguirem encontrar um meio de transporte para retornar ao país.
Muitos sul-africanos pobres acusam os estrangeiros de roubar seus empregos, provocar a falta de moradia e fomentar a violência nas grandes cidades. Há cerca de 5 milhões de imigrantes na África do Sul - 3 milhões são zimbabuanos.
Organizações humanitárias informam agora a preocupação com um novo risco para os imigrantes: doenças contagiosas estão se espalhando pelos acampamentos onde eles estão abrigados.
Bianca Tolboom, da ONG francesa Médicos Sem Fronteiras, disse que os campos estão superlotados e há problemas no acesso à água potável. “Algumas pessoas ficam ao ar livre, sem agasalhos. Uma das principais preocupações são epidemias de doenças respiratórias, infecções e diarréia”, disse.

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